A ARTE DA POESIA 21 MARÇO 13:30/14:30H "DIA MUNDIAL DA POESIA"
Escrito por Jorge Gaspar em Março 20, 2020
Emissão 20
No âmbito da divulgação cultural na NTR, celebra-se e vive-se POESIA.
No Dia Mundial da Poesia, uma conversa abrangente sobre Poesia, seus Autores, a cada vez mais importância nos dias de hoje, com o convidado Mário Máximo. Na prática da Poesia, a visibilidade merecida.

“Se um poema não tomou de assalto um homem, das duas uma: ou não era um poema, ou não era um homem.
Resolver em sede de tribunal. Ou na rua.” (Vasco Gato)
Ou aqui na NTR. Em A ARTE DA POESIA.

Álvaro Alves de Faria, Jornalista, poeta e escritor.

“A poesia há de ter caráter. Aquele sentimento que a poesia exige do poeta que se busca e se traduz com a palavra que tantas vezes fere. A poesia está na contramão do mundo, cada vez mais distante dos que ainda cultivam sensibilidades e gestos de solidariedade. A poesia não quer viver de experiências. A poesia é.”
Há um momento certo
para se escrever um poema.
Uma hora certa.
Um dia certo
para se escrever um poema.
Uma vida inteira.
Lilliam Moro nasceu em Havana em 8 de março de 1946, e faleceu às 5 horas da manhã de sábado, 14 de março de 2020 em Miami.

«… então você entende que só pertence a um lugar se a alma se torna realidade sem tempo e se unifica em todos os tempos …»
(Na boca do lobo, Lilliam Moro)
1 Quando acreditávamos
que o horror havia passado de moda
e o homem temeroso já não baixava a cabeça
para passar inadvertido,
o indivíduo milenar escapava de novo
das páginas dos livros de História.
Os mapas estão cheios de pontos pequenos:
são tremores humanos sob o piedoso céu,
o medo revestido por uma pele, por um farrapo,
por uma gravata
daquele que caminha na ponta dos pés
para não ser notado,
para que o barulho de sua respiração
não desperte quem tem a razão, o punhal,
o discurso que deixa minha vida em pedaços,
o que parece ser meu semelhante
e até come, sorri, procria como eu,
mas retumbam suas pegadas
dentro do meu pequeno coração
porque quer salvar-me,
o que me insulta porque quer salvar-me –
uma vez e outra durante tantos séculos
empenhado em salvar-me.
Sempre tive de viver em estado de sítio.
Como fazê-lo entender que somente me salva
um par de certezas ou nenhuma,
os erros que me são tão estimados,
e até este fogo inútil
que como um deus me limpa a alma?
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2 Quando de repente tudo cai em cima de mim
e sinto que tenho coisas a dizer,
apalpo meus bolsos, o cabelo, o coração
mas não encontro as palavras.
Como se a memória
fosse o chamejante papel de um jornal
e vão-se consumindo entre as chamas
o dito e o que ficou por dizer,
o lembrado e o esquecido,
e as letras crepitam, fazem-se fumaça
que se perde no ar
para que não se possam encontrar as palavras.
Ali, frente ao espelho,
já não vejo meu rosto,
apenas a ausência de palavras.
As sábias, as justas, as precisas,
as que herdamos mas não escolhemos,
essas que ficaram sem som
como um nó de medo na garganta
para que não se encontrem em lugar nenhum
que esteja fora de mim.
Mas as outras,
as infames, as rudes, as inúteis,
aquelas articuladas pelo incompreensível,
o falso resplendor das trevas,
a primeira e a última palavra:
as do amor e do caos
não só uma das duas
mas as duas, inevitavelmente juntas
comigo sempre.