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“A ARTE DA POESIA” ALBERTO PEREIRA

Escrito por em Julho 3, 2020

4 JULHO 13:30/14:30H

No âmbito da divulgação cultural na NTR, celebra-se e vive-se POESIA, numa conversa sobre Poesia e seus Autores nos dias de hoje.

“Se um poema não tomou de assalto um homem, das duas uma: ou não era um poema, ou não era um homem. Resolver em sede de tribunal. Ou na rua.” (Vasco Gato)

Ou aqui na NTR. Em A ARTE DA POESIA. 

Numa conversa pulsando Poesia, a presença de Alberto Pereira, a propósito do seu ultimo livro “COMO NUM NAUFRÁGIO INTERIOR MORREMOS”.

Chancela Editora Urutau.

1ª edição  apresentada em Lisboa em Março 2019;

2ª edição apresentada em Santiago de Compostela (Espanha) em Maio de 2019.

Prefácio de Gonçalo M. Tavares e posfácio de Ronaldo Cagiano.

“Da catedral à erva,
de Beethoven ao soneto final,
basta apenas a dança
de um teorema fugaz.

O amor,
velha raposa
aguardando o primeiro comboio para a neve”

“A minha alma inteira é um grito e a minha obra é um comentário a esse grito” (Nikos Kazantzakis)

GONÇALO M. TAVARES (Escritor, Professor Universitário)

“A epígrafe de Arno Schmidt

E os olhos deles brilhavam
como as janelas de um manicómio em chamas.

dá esse tom de pedido de socorro, por um lado, e de uma certa alucinação. Olhos alucinados, palavras alucinadas neste livro de Alberto Pereira.
O livro avança nesse caminho do desvio constante, desvio que salta sem olhar para trás (…) como se tivesse sido dada a permissão à linguagem para não parar.”

RONALDO CAGIANO (Escritor, Ensaísta, Crítico Brasileiro)

“Alberto Pereira (…) alcança a plena consolidação de sua oficina poética e a estabilidade de seu nome entre as melhores vozes da poesia portuguesa contemporânea, é uma palavra em permanente diálogo com os próprios signos da poesia. Uma característica vital de sua concepção criativa, é que que para o poema — e além dele — o poeta deambula-se com uma permanente inflexão metapoética, num caminho de conectividades, do flerte e da intercessão com outros autores e obras. Estão presentes nesses poemas as suas leituras, as suas preferências, os seus totens, as suas ambiências e empatias artísticas. Um poeta dos encontros e dos encantos, que bebe nas melhores fontes, retém grandes ecos: de Borges a Stravinski, de Cesariny a Whitman, de Einstein a Monet, de Rimbaud a Pina Bausch, da pintura ao teatro, da música ao cinema, da Física ao xamanismo, do Danúbio ao Amazonas, de Miles Davis a Kavafis, da dança à política, muitos são os sopros vitais que o conduzem.”

JAIME ROCHA (Poeta)

“Um monólogo interior torrencial à procura do espaço do poema. O que me agrada na poesia de Alberto Pereira é o fulgor da palavra, o tapete poético que ele estende para o pensamento. A poesia portuguesa contemporânea renova-se, cruza-se num rio de vozes e é aí, nessa fissura de encontros, que Alberto Pereira tece a sua rede de palavras, de referências e de invocações, numa elegância e num envolvimento singulares em que predomina a metáfora, a imagem corpórea e a reflexão filosófica. Uma poesia que surpreende, agita, questiona e comove, o que para o leitor é uma matéria luminosa.”

RICARDO GIL SOEIRO (Ensaísta e Poeta)

“Após o aplauso crítico a Poemas com Alzheimer (Glaciar, 2013) e a Viagem à Demência dos Pássaros (Glaciar, 2017), Alberto Pereira regressa com um livro intenso, pleno de um fulgurante lirismo, em que a desenvoltura rítmica fertilmente se cruza com a exuberância imagética de sempre. Em Como num naufrágio interior morremos, o autor pratica aquilo que Gamoneda apelidou uma arte da memória diante da perspectiva da morte. O próprio título – enigmático, desarmante, visceral – remete para a interrogação da finitude que não pode deixar de assaltar quem a si mesmo se interroga. Forjando um “catálogo para desabar”, exaltando “comícios do ego”, as palavras que aqui semeiam inquietude como que se acendem nessa escuridão feliz, escolhendo arder num fogo lento. Se nos fosse permitido parafrasear desassombradamente a epígrafe deste livro, diríamos apenas que estes versos insistem em brilhar como as janelas de um manicómio em chamas. O poeta di-lo melhor: “Respira como um pântano que acordou”. E nós, leitores de coração feito tumulto, simplesmente obedecemos.”

ALBERTO PEREIRA

Nasceu em Lisboa. É licenciado em Enfermagem.

Pós-graduado na área Forense. Diplomado em Hipnose Clínica.

É membro do PEN Clube Português.

Publicou os livros: O áspero hálito do amanhã  (2008), Amanhecem nas rugas precipícios  (2011), Poemas com Alzheimer  (2013), O Deus que matava poemas (2015), Biografia das primeiras coisas (2016), Viagem à demência dos pássaros (2017). Em 2017, foi editado no Brasil Bairro de Lata, na icónica colecção Dulcineia Catadora, na qual participaram grandes nomes da poesia brasileira como Manoel de Barros e Haroldo de Campos.

Participou em colectâneas de contos e poesia das quais se destacam: Antología de Poesía Iberoamericana Actual, Antologia da Moderna Poética Portuguesa, Textos de Amor  (Museu Nacional da Imprensa), À Sombra do Silêncio/À L’Ombre du Silence , Inefável, Cintilações da Sombra III, Bicicletas para Memórias & Invenções IV e V , Revista Caliban, Palavra Comum, Nervo III, Cintilações I e II. Alguns dos seus poemas foram traduzidos para espanhol e francês.

Obteve os seguintes prémios literários: 1º Prémio do Concurso de Poesia, “Ora, vejamos” (2008); 1º Prémio no Concurso de Poesia da ACAT (2009); 3º lugar no Prémio Sepé Tiaraju de Poesia Ibero-Americana, entre 3027 obras inscritas de 26 países (2009); 1º Prémio do Concurso de Conto “Ora, vejamos” (2009); 1º Prémio do Concurso Literário Conto por Conto (2011); 1º Prémio no XIV Concurso de Poesia Agostinho Gomes (2013); 1º Prémio no Concurso Literário Manuel António Pina, Museu Nacional da Imprensa (2013); Menção Honrosa no Prémio Internacional de Poesia Glória de Sant´Anna (2018) e (2020).

«Tentar munir-me de um bisturi e atirar-me à carne das páginas deste livro, podia ser de um enorme risco. O risco de cruzar-me com outros (e que outros!) que já o fizeram com a mestria e radiância próprias de quem domina o ofício poético; e cito-os: Gonçalo M. Tavares, Jaime Rocha, Ronaldo Cagiano ou Ricardo Gil Soeiro. Coloquei-me então sobre a corda e decidi fazer-me ao abismo. Não será essa a função de quem escreve? E nesse interim, lembrei-me de uma frase do filósofo Byung-Shul Han que andava há muito a estremecer na minha cabeça, e que de certa forma fez com que abrisse caminho sob o motor que os versos de Alberto Pereira encerram: “Estamos demasiado mortos para viver e demasiado vivos para morrer”.»

«Gaston BachelardTexto lido na livraria Chan da Pólvora (Santiago de Compostela) na apresentação de “Como num naufrágio interior morremos” (Urutau, 2019) »

Comícios do ego

Venho falar-te do fôlego dos cínicos,
da longa máscara que finge ter mastro,
desses requintados oradores de varizes gourmet.
Dos que descobrem na última curva dos gestos
que foram cítares com gume.

Sou anzol que sai do útero do poema
para elevar o osso da fala até os lírios.
Velho merceeiro de colisões.
Atalho entre a pólvora e um revólver.

Sou sede, hospício a galope na dinamite.
Uma lâmpada muito nítida
que se acende em Victor Hugo.

Encerro no âmago
o oceano como Homero, o Cáucaso como Ésquilo,
Roma como Juvenal, o inferno como Dante,
o paraíso como Milton, o homem como Shakespeare.

Revolução,
atlas de um povo consumido
que explode na iniciática viagem
à carótida da pátria.

São sempre os loucos que calçam sandálias ao hino.

VIII

O corpo,
canora ave
na puberdade das falésias.

Ainda sem o infinito
adornado para o junco,
a pele,
condomínio de fábulas.

Mais tarde,
o ciclo menstrual da erosão.

O povo,
negra pintura de Goya
no entardecer da idade.

Prometeram-lhes que os olhos
seriam em todas as horas
pinturas de Matisse
e o futuro usaria brinco de pérola
como as raparigas de Vermeer.
Mas o que temos
é musgo no desfiladeiro das veias.

Ficaram para trás as mães
remendando fantasmas na trincheira.
Estas já não dizem,
Agosto é o epicentro de uma tela de Pollock
e a infância foi criada por um vulcão
nos pincéis de Miró.

Fossem os precipícios
um verso de Quintana
e todos gostaríamos de venerar
a arte do alagamento.

Quem faz um poema salva um afogado.

Na inundação,
o povo escreve seda mais pura.


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