A MORTE ASSISTIDA

Não vou falar hoje de um assunto agradável, mas é uma coisa que não me sai da cabeça e ainda não percebi por que é que isso aconteceu.

Refiro-me à aprovação da lei que despenaliza a eutanásia. E à altura escolhida para essa despenalização.

Numa altura em que todos os médicos, enfermeiros, pessoal dos hospitais se esforçam mais do que podemos imaginar para salvar todas as vidas possíveis, numa altura em que até já chegou a ajuda de médicos alemães para aumentar quem trata dos doentes nos hospitais—terá alguma lógica aprovar uma lei que autoriza deixar morrer as pessoas?

De resto, a votação no parlamento foi bastante estranha: para já, o Partido Comunista , o CDS e o Chega estiveram todos de acordo—e votaram todos contra. Depois o Bloco de Esquerda e a Iniciativa Liberal também estiveram de acordo—e votaram a favor.

Depois houve—o que é normal—partidos que  repartiram os seus votos por diferentes opções.

E o PS que optou, quase todo, pela aprovação.

Resumindo e concluindo: houve 136 votos a favor, 78 contra e 4 abstenções.

Eu tive um grande amigo, músico, que tinha uma doença terminal. E um dia reuniu a família e meia dúzia de amigos para lhes dizer que não aguentava mais, que aquilo já não era vida, e que ia à Suiça , país onde a eutanásia já era permitida, e que já não voltava.

Foi uma tarde terrível para todos nós, mas ele estava firme na sua decisão : era impossível aguentar mais.

Fez todas as marcações e no dia aprazado lá foi, com a mulher.

Dias depois voltava.

À última hora não tinha sido capaz.

E ainda viveu mais uns anitos e ainda compôs mais umas músicas.

É sempre disto que eu me lembro quando me falam em eutanásia.

AS MINHAS HISTÓRIAS NAS “ONDAS DO ÉTER”

Alice Vieira