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"ADIUS" DE VASCO GATO CHANCELA ABYSMO

Escrito por em Setembro 12, 2020

O LIVRO DO DIA NTR.

A geografia familiar de Viriato, personagem maior de «Adius», move-se há muito em águas de perda. A escrita e a publicação de um livro despertam em si a urgência de procurar uma definição para essas ilhas à deriva. Ou para a sua própria deriva. Entre falências emocionais e calcanhares mordidos pela solidão, não será a existência um reiterado exercício de despedida?

Um escritor que se estreia no romance com um romance sobre um escritor que se estreia no romance é território habitado. A metáfora das bonecas russas é recorrente na literatura, mas em “Adius”(Abysmo, 2020), o romance inaugural de Vasco Gato, rompemos novas fronteiras. O livro é o objeto mágico que leva o narrador a procurar os territórios que nunca quis habitar, decidindo, por fim, jogar à roleta com a vida e rememorar zonas de afeto difuso da infância e adolescência.

Vasco Gato é poeta e, também por isso, dá, com “Adius”, lições aos romancistas. Lições de construção de personagens, de desarrumo de diálogos, de síntese e de subtração – há precisão de puzzle (ou de poema?) no emprego das palavras, encaixando as arestas de umas nos limites das outras sem nunca se sopearem.

Este livro foi esquecido nas prateleiras dos lançamentos pela pandemia e por tudo o que desabou sobre as nossas vidas nos últimos tempos, sob a forma de um caterpillar que esmaga e compacta as rotinas à passagem. “Adius” merece sobressair na argamassa cinzenta em que se tornaram os dias indistintos e ser recuperado. A obra é testemunha da pós-modernidade que hesita em tropeçar nos próximos passos. O narrador dá-se ao luxo, nos dias que correm, de escolher sobre a distância a percorrer.

VASCO GATO

Vasco Gato nasceu em Lisboa, em 1978, cidade onde vive e trabalha como tradutor. Publicou na viragem do século o seu primeiro livro de poesia, intitulado Um Mover de Mão. A esse volume inicial seguiram-se onze coletâneas em nome próprio e duas recolhas de poesia por si traduzida. Daqui Ninguém Entra é a sua primeira incursão na escrita dramática.


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