"AFONSO REIS CABRAL" VENCE PRÉMIO LITERÁRIO JOSÉ SARAMAGO 2019
Escrito por Jorge Gaspar em Outubro 8, 2019
Afonso Reis Cabral é o vencedor da edição de 2019 do Prémio Literário José Saramago, com o romance Pão de Açúcar. O anúncio foi feito esta terça-feira, ao final da manhã, pela presidente do júri do prémio, Guilhermina Gomes, na sede da Fundação José Saramago, na Casa dos Bicos, em Lisboa.
Narrado na primeira pessoa, Pão de Açúcar, publicado em setembro de 2018 pela editora Dom Quixote, parte da história verídica do assassinato de Gisberta, na cidade do Porto, em 2006.
Segundo Ana Paula Tavares, membro do júri do Prémio Saramago, o romance “lida com o espesso e confuso mundo da memória e retira do esquecimento acontecimentos que os jornais e os relatórios da polícia tinham tratado de forma redutora e parcial com silêncios e omissões que o autor se propõe aqui a revelar”.
Na opinião de António Mega Ferreira, que também integra o júri do Prémio José Saramago, Pão de Açúcar trata-se de “uma das obras ficcionais mais arrebatadoras e poderosas dos últimos anos”.
Frias Martins: “Grande romance de um jovem autor de quem a literatura portuguesa se pode desde já orgulhar”
Para Manuel Frias Martins, trata-se de um “grande romance de um jovem autor de quem a literatura portuguesa se pode desde já orgulhar”. O membro do júri, a quem coube fazer o elogio da obra e do autor, explicou que os seus caminhos e os de Afonso Reis Cabral já se cruzaram antes, “algures nas regiões etéreas da universidade”, mas que não foi por isso que votou em Pão de Açúcar: “Votei na obra dele porque de facto admiro muito este autor”.
Este é, segundo o professor da Faculdade de Letras de Lisboa, um “romance compassivo mas nunca sentimental”, “de uma parcimónia exemplar no que respeita à linguagem e à imagística, sobretudo face à dramaticidade comovente dos envolvimentos humanos da sua estória. Há uma frescura estilística notável que acaba por equilibrar o próprio potencial trágico da obra, gerando no leitor aquele interesse ou aquele querer saber que nos prende irremediavelmente ao texto que vamos lendo”.
Este é um livro que nos traz o prazer da literatura pelo mistério de tocar a alma mais pungente da realidade, mantendo-se sabiamente, ao mesmo tempo, dentro das ilusões da ficção”, afirmou ainda Manuel Frias Martins.
Em “jeito de remate”, o jurado terminou o elogio dizendo que “este é um romance que reforça a minha convicção de que de facto as melhores obras são também aquelas que nos obrigam a dizer que não é só de literatura que tratamos quando tratamos de literatura”.
Pão de Açúcar é o segundo romance do escritor de 29 anos, que venceu o Prémio Leya em 2014 com o seu romance de estreia, O Meu Irmão. A obra fala sobre a relação entre dois irmãos, um deles com síndrome de Down. O último livro de Reis Cabral foi publicado no passado mês de setembro. Leva-me Contigo é um relato da viagem que fez a pé ao longo da Estrada Nacional 2, a maior de Portugal.
Na cerimónia desta terça-feira, estiveram presentes a ministra da Cultura, Graça Fonseca, a vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, Catarina Vaz Pinto, e os autores vencedores das edições anteriores. Na última edição, em 2017, o Prémio José Saramago foi entregue ao romance A Resistência, do brasileiro Julián Fuks.
Guilhermina Gomes anunciou esta terça-feira que, a partir da próxima edição, o Prémio Literário José Saramago vai passar a ser entregue a autores com até 40 anos da idade.
(via: observador)