"ANTÍGONA" TEATRO NACIONAL D.MARIAII SALA GARRETT LISBOA
Escrito por Jorge Gaspar em Setembro 16, 2019
Quando me sentei no antigo lugar onde se observa o voo dos pássaros, ouvi um ruído de aves desconhecidos; gritavam com fúria agoirenta e sons bárbaros. Percebi que se dilaceravam e matavam umas ás outras com as garras; o barulho que faziam com as asas não era sem sentido.
A cidade está doente.
Estes pássaros que sobrevoam a cidade são os catalisadores do universo a explorar, pelo seu lado simbólico, não só de antevisão trágica mas também na relação com o lado mais instintivo do homem, aquele que é indomável e que muitas vezes se sobrepõe à razão.
Este é o ponto de partida para a criação de Antígona, de Sófocles. E, partindo de uma cidade que vai adoecendo propõe-se criar um espetáculo que procura a vertigem, à medida que o conflito entre a lei da determinada por Creonte se opõe ao descontentamento e desrespeito pelos direitos humanos e familiares de Antígona. Creonte impõe tiranicamente a sua vontade, confirmando a imutabilidade do destino trágico que marca os Labdácidas. Antígona ousa, quase revolucionariamente, opor-se-lhe. Pode o humano mudar o destino? Devem os direitos humanos sobrelevar os direitos do poder instituído? O que é afinal a justiça?
Pergunta-se ainda: Como abordar um texto clássico e paradigmático da história do Teatro, já tantas vezes feito e refeito? Interessa-me antes de mais tratá-lo na sua atualidade, por um lado e na sua humanidade, por outro. Vejo aqui, nesta possibilidade de interrogar o carácter humano, a âncora e âmago de deste espetáculo, suportado no trabalho dos atores, aos quais se coloca o desafio de retratarem e atualizaram estas personagens arquetípicas, explorando as suas contradições, dúvidas e ímpetos, num conflito que nos atira para uma escuridão que, por fim, nos poderá, talvez, iluminar.
FICHA ARTÍSTICA
encenação Mónica Garnel
texto Sófocles
com André Simões, Carolina Passos-Sousa, Diana Lara, Isaías Viveiros, João Grosso, Lúcia Maria, Manuel Coelho, Paula Mora, Pedro Moldão
tradução Marta Várzeas
música original Vitória
cenografia e figurinos Marta Carreiras
desenho de luz Rui Monteiro
sonoplastia e desenho de som João Diogo Pratas
consultoria artística e assistência de encenação Inês Vaz
vídeo João Gambino
produção TNDM II
18 SET – 6 OUT
QUA E SÁB, 19H > QUI E SEX, 21H > DOM, 16H
SALA GARRETT
Sessão com interpretação em Língua Gestual Portuguesa
29 set
Conversa com artistas após o espetáculo
29 set
Sessão com Audiodescrição
6 out