"ANTOLOGIA DE CONTOS ORIGINAIS" COORDENAÇÃO: JOÃO DE MANCELOS
Escrito por Jorge Gaspar em Julho 13, 2020
Chancela Edições Colibri.
“Antologia de Contos Originais” (Lisboa: Colibri, 2020).
Colaboraram trinta e três autores, de oito países, dispersos por quatro continentes. Alguns nomes já publicaram e foram distinguidos com prémios literários; outros são estreantes.
O escritor norte-americano Stephen King, especialista nos géneros do suspense e do terror, argumenta que o conto é uma “arte perdida”. Com estas palavras cruéis, mas certas, releva que o mercado editorial se encontra saturado de romances, uma forma de narrativa dileta de leitores e críticos. Existe, pois, uma pressão de ordem comercial para que até homens e mulheres de letras consagrados abandonem o conto e produzam aquele tipo de texto, tido como mais prestigiante. Mesmo nos Estados Unidos da América, onde a história breve detém uma longa tradição, que se estende desde os esforços embrionários de Washington Irving a Joyce Carol Oates, passando, pelo incontornável Edgar Allan Poe, definham as revistas e antologias dedicadas à arte da narrativa breve. No entanto, como professor ligado à literatura e à escrita criativa, sempre aconselhei os aprendizes a praticarem a técnica precisamente através da elaboração de contos, por três razões. Em primeiro lugar, um texto breve requer um investir de esforço e tempo menor do que um romance, que pode ocupar anos de trabalho criativo e, apesar disso, constituir um falhanço. A propósito, Lorrie Moore resumiu: “Um conto é um caso amoroso, um romance constitui um casamento”. Em segundo, porque, contrariamente ao que demasiados críticos julgam, uma história breve exige o mesmo talento de um romance, na pesquisa do tema, construção de personagens, urdir do enredo, descrição de espaços e atmosferas, manipulação cronológica, etc. Mais ainda, um conto, pela sua concisão, leva o autor a ponderar o que deve incluir ou rejeitar, treinando, deste modo, a sua capacidade de escolha. Por fim, como é evidente, torna-se mais fácil publicar um conto num jornal, revista ou coletânea, do que um romance numa editora. É neste espírito de abertura a novos valores, ocasionalmente apadrinhados por gente das letras mais experiente, que se enquadra a presente coletânea. O título Antologia de Contos Originais foi proposto pelo editor, Dr. Fernando Mão de Ferro, no início dos trabalhos, e envolveu-me de imediato pela sua polissemia. Assim, “originais” tanto pode significar “inéditos”, ou seja, “não publicados”, como “singulares”, isto é, “histórias diferentes”. Faz todo o sentido, pois a maioria dos colaboradores desta coletânea ou é estreante ou não possui ainda uma obra vasta no campo da narrativa. [JOÃO DE MANCELOS (do Prefácio)] Índice: Prefácio: novas vozes murmuram nestas páginas João de Mancelos Os frontispícios fronteiriços Sérgio Almeida O homem que se julgava um iluminado Lúcio Neto Amado Delicatessen para dias a meio gás Teresa Beirão O tom verde maduro das árvores a lembrar, vagamente, Montmartre Luís Bento Essa longa viagem na noite Maria de Fátima Candeias História familiar Joaquim Jorge Carvalho Quem procurais? Luís Filipe Cunha Uma pequenina obsessão Isabel Hub Faria No limiar da eternidade Gabriela Ferreira A roleta da vida Dora Nunes Gago O trilho das rosas sangrentas Maria Luísa Garcia A manifestação de um lado B da vida Carlos Nuno Granja Naja Naja António M. A. Igrejas A viagem que nunca fizemos María Colom Jiménez A cartola Paula De Lemos Conto nenhum – impressões de Januário sobre as coisas da vida e todo o resto Breno Leal Lima e João Vilnei de Oliveira Filho Na sombra de Bartleby Maria Antónia Lima A águia paira na cimeira do Céu Raquel Gonçalves-Maia Chronica Adefonsi Imperatoris Teresa Martins Marques Jocasta Arlinda Mártires Augusto Sabiel – O homem que bebia livros loucos e sabia António Mota O silêncio Rita Ciotta Neves Confinamento – um, dois, três – acatar! (toca a todos, cão, gato, gente…) Conceição Oliveira O vinho da boda Maria João Lopes Gaspar de Oliveira A dança do mar Rosário Pedroso A promessa João Rasteiro Cabelo encaracolado Ricardo Rato Rodrigues Para lá do palco Ana M. M. Santos Os botões dourados Maria da Graça Guilherme d’Almeida Sardinha As coisas da vida Francisco Martins da Silva Estamos aqui Diogo Simão No lento frenesim da peste Jorge Tinoco CONTO EXTRA A doçura dos crocodilos João de Mancelos * * * * * O COORDENADOR: JOÃO DE MANCELOS, nome profissional de Joaquim João Cunha Braamcamp de Mancelos, nasceu em Coimbra, em 1968. É doutorado em Literatura Norte-Americana, pós-doutorado em Literaturas Comparadas e possui uma agregação em Estudos Culturais. É docente no ensino superior. Possui obra na área do ensaio, poesia e narrativa. Entre os seus livros destacam-se “As fadas não usam batom” (2.ª ed.), “Introdução à escrita criativa” (5.ª ed.) e “O pó da sombra”. |