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AS CORES DOS AUTORES NATÁLIA MATOS GOMES. GENIALIDADE POÉTICA.

Escrito por em Maio 15, 2020

AS CORES DOS AUTORES. Na tela da Rádio, Histórias, Conversas, Ideias, Sensibilidades. Esculpindo Memórias. Produz Realiza JORGE GASPAR.

Nos estúdios da NTR, NATÁLIA MATOS GOMES. O destaque para o seu livro de Poesia, “Reflexos no Olhar”, lançado no Palácio Baldaya em Lisboa. Edição com Coordenação de Maria Antonieta Oliveira e Chancela In-Finita. A presença também de Álvaro Giesta, Poeta e Cooordenador Editorial, autor do Prefácio da obra.

NATÁLIA MATOS GOMES. A genialidade Poética na escrita. Matizada com Arte.

DO PREFÁCIO DE ÁLVARO GIESTA

“falta-me ainda escrever o poema inteiro – (…) o que sai da sombra e cresce inquieto e nómada nas páginas do in.sucesso.” 

– assim escreveu ÁG em IDEÁRIOS.

Assim nos diz, numa outra sequência de ideias poético-fi- losóficas, embora na mesma mimesis, a autora Natália Matos Gomes em REFLEXOS no OLHAR, a sua obra de estreia nestas lides poéticas: “Como eu gostaria de inventar um poema novo: / Sem luar, nem sol, nem mar, / Nem epopeias, nem dias, nem mais… / Apenas um poema novo, / Onde coabitassem loucos e animais”. 

Uma utopia, uma ideia fantástica… loucos são os poetas onde apenas com eles, no seu imaginário romântico de sã loucura, coabitam harmoniosamente todos os seres à face da terra. Utopia – devaneio poético, coisa que o poeta sabe irrea- lizável no real, inalcançável, mas que lhe alimenta a alma; de- vaneio, ilusão… aqui, no imaginário poético da autora, o poema novo não é utópico: é sonho – o maná de todos os poetas. 

“Utopia” – o lugar imaginário, o lugar inexistente, logo, o não-lugar, o da sociedade perfeita na criação de Thomas Mo- rus onde todos, em equilíbrio, fossem felizes; aqui, em Re- flexos no Olhar, o convite ao sonho do poema novo proposto pelo poeta, onde todos os seres possam caber, não é utópico. Diz-nos Natália Matos Gomes: “Utopia? Não! É um sonho, (um sonho) Que se concretiza com as quimeras Que, outrora em minhas manhãs, As redimensionei no poema novo, Que ora urge para todo o sempre.”

NOTA SOBRE A AUTORA Isabel Bastos Nunes

Falar da Natália Matos Gomes Guilherme, como pessoa, é fá- cil, pois somos amigas de longa data. Foi sempre uma pessoa afável e discreta, “pondo sempre água na fervura”, quando ne- cessário, defendendo sempre a harmonia e o bem-estar entre as pessoas que a circundam. 

De alma e coração generosos, procura que todos se sintam bem à sua volta estando sempre pronta a ajudar. 

Já falar da Natália como Poeta, é bem mais difícil… Quando me apercebi da sua Poesia fiquei agradavelmente surpreendida e passei a estar mais atenta. 

Pouco a pouco foi-me conquistando pela capacidade que tem de transpor para o papel a indelével marca dos seus poe- mas com as imagens que ao longo da sua vida foi observando nos locais por onde passou, que visitou, e onde estudou e viveu.

TESTEMUNHO DE UM AMIGO José Carlos Pereira

Natália Matos Guilherme é a poeta que nos surge num tem- po de desconstrução do mundo, pautando-se por irrepetíveis imagens, e da reconstrução de sons espartilhados no vazio das nossas vidas.

Ao contrário dos poetas da segunda metade do século XX, os versos de Natália não são o grito da nossa existência, que seria legítimo se o fosse; são o caudal de um rio de água clara, onde a poeta vai beber as figuras que escreve e desenham em cada ritmo pulsante, mas harmonioso.

Natália apresenta-nos imagens escritas muito apelativas: umas que enobrecem a beleza natural, corporal e de pensamento; ou- tras são o retrato de sofrimentos e do inferno. Porém, a poeta, em cada poema, encontra o chamado “verso de ouro”, can- tando e dizendo ao mundo que tudo o que existiu, que existe e que existirá é nosso. É nosso, sim! É nosso o património do amor, nas suas mais variadas vertentes. Natália vence, vence sempre em cada poema. Domina os demónios da existência, escala as montanhas da sua própria catarse e empunha a tocha de Olimpo como etapa final da vitória do mundo – a vitória da alma humana. 

O QUE HÁ DENTRO DE MIM

O que há dentro de mim É um vaso acutilante de seiva Que o tempo quis secar, mas pugnei Pelos deuses – e eles vieram em socorro. 

O amor não morre, É de uma doçura exausta e mansa; É um olhar, um recado, uma aventura Das órbitas cimentadas no corpo. 

No corpo e na alma que decide As vontades – e contraria desejos, E raciocina sobre a justa medida do amor, Que se constrói, existindo lado a lado. 

O amor é o alimento do momento eterno E vai sempre em viagem, que nos larga – Ai morte, o desencontro de nós, numa atracção de astros que se desalinham no final de tudo!

O TEMPO

Tulipas anunciam o tempo das flores que,

com laivos de astenia, se despede da nudez das árvores desfolhadas vestindo-se de mil cores, na sinfonia dos pássaros.

Cumpre-se o tempo!

Esse – o tempo – que nunca se engana,

Na passagem das estações;

das árvores brotam botões e das flores o aroma,

que antecede o estio das searas ondulantes,

que se renovam todos os anos,

num horizonte de fenos,

como a ceifar as ilusões,

d’ontem e de hoje, mas tão distantes,

fugindo ao destino das Calendas. 

TEMPO PARADO

Estou atrasado, estou atrasado! 

Rosto trigueiro, Tenho pressa, estou atrasado… 

Corpo maneiro, Oh, se ele pudesse estrangulava 

Cabelo castanho de O tempo, esse que não perdoa 

Laivos marsala. Nem nunca se engana No passar das horas 

Trazes no sorriso bagas E dos dias do desengano: 

De luz a fermentar, e É assim, que o coelho branco 

Com o engaço nos afagas Por lá continua perdido no sonho 

Em tuas sábias palavras. Num mundo inexistente, procurando As horas que faltam hoje, 

Trazes abraços de gratidão, Que sobraram ontem, 

Na embriaguez da maturação, E, as incertas de amanhã: 

Nos dias que passam, nesta rua Acorda Coelho! Diz a Alice – 

Que é a nossa, minha e tua. Aqui neste lado do espelho Não há tempo, aqui não precisas 

Abro a janela e tenho a certeza De relógios! 

De ver dois cachos de uva Não vês que os ponteiros estão parados, e assim somos 

Na deusa que tens no olhar. livres! 

Qual Meditrina que ama e cura. – Isso dizes tu , responde o coelho correndo e repetindo… … 

E todos nos curvamos Estou atrasado, estou atrasado! 

Ao teu passar… Alice repara, então, que 

Na suave brisa que embala Estão todos prisioneiros no despendurado tempo: 

O teu cabelo de laivos marsala… e atravessa o espelho, sem demoras, fugindo-lhe… … Em casa é castigada por chegar fora d’ horas! 

ALIMENTO 

Já recolhi a toalha de linho não brincarei com o fogo; 

que estendi à tua espera. satisfaz-me um lume brando, 

O jantar arrefeceu, nos dias do desencanto…

Os pássaros vieram e levaram o que sobrou do nosso alimento;

dos meus olhos brotaram gotas de orvalho, na ilusão do meu desnorte

em vínculos sem amanhãs…

Sacudi a toalha e até me pareceu

ver migalhas de rimas perdidas

a clamar por versos teus,  

e, em lágrimas incompreendidas,

afaguei a alma e enxuguei os meus olhos,

já sentada na mesa fria e, num apetite voraz,

jantei o que mais queria,

que era, e é… a Poesia!

POEMA NOVO 

Como eu gostaria de inventar um poema novo:

Sem luas, nem sol, nem mar, Nem epopeias, nem dias, nem mais…

Apenas um poema novo,

Onde coabitassem loucos e animais, Querubins e áspides voadoras, Super-heróis e serafins, Mal amados e dragões, Mendigos e senhores, Geração sem gerações Numa tão real irrealidade… 

Venham comigo, venham, Escrever um poema novo, Onde caibam todos os seres – Ó visões de Bruegel e de Bosch Numa estonteante prestidigitação!

Aqui não, ninguém fica de fora!

Utopia? Não! É um sonho, Que se concretiza com as quimeras

Que, outrora em minhas manhãs,

As redimensionei no poema novo,

Que ora urge para todo o sempre. 


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