AS MINHAS HISTÓRIAS NAS “ONDAS DO ÉTER”
Escrito por Jorge Gaspar em Janeiro 9, 2021
CRÓNICA SEMANAL DE ALICE VIEIRA.

UNIVERSIDADE DOS QUADRADINHOS
Existe neste nosso mundo uma universidade popular que, à margem dos
ensinos oficiais , enche de uma especial sabedoria as mais diversas
camadas da população. Não dá diploma, não assegura emprego nem
reforma—mas dá ao rosto de quem a possui um halo de beatitude que só
transpira do coração dos iluminados.
Refiro-me à sabedoria das palavas cruzadas.
Com poucos meses de prática, qualquer pessoa ficará perfeitamente apta
a saber que “finfar” é vestir bem, que “aru” é sapo do Amazonas (não
confundir com ”uro”, que é toiro bravo), e “uta” é joeirar.
Com um pouco mais de prática, conseguirá em breve discernir entre “Aar”
(rio da Suiça), “aas” (duna na Suécia) e “aal” (antiga porcelana do
oriente)—coisas importantíssimas para o seu dia a dia.
Nos cafés que ainda existem, não é raro encontrar gente que se
movimenta pelo labirinto dos quadradinhos, rapidamente escrevendo
“cró” em “nome de jogo”, “cós” em “mealheiro”, “io” em satélite de
Júpiter, “tas” em bigorna, ou “raer” em “varrer o forno depois de
aquecido”.
Um cruzadista ferrenho pode desconhecer o “rosa-rosae” dos velhos
tempos do liceu, mas sabe na ponta da língua que “ea” é “a palavra latina
por que começam muitos documentos de interesse para Portugal”.E uma
dona de casa pode ignorar a açorda de coentros, mas sabe que “apa” é
“bolo de azeite e mel feito na Ásia”.
Num momento como este que atravessamos, em que o ensino anda
complicado e os professores levam as mãos à cabeça , não tarda que esta
nova escola vá suprir muitas das deficiências existentes.
O tipo de conhecimento pode não ser muito aprofundado mas sempre se
podem ganhar uns euritos no “Joker”.
