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AS MINHAS HISTÓRIAS NAS "ONDAS DO ÉTER" CRÓNICA SEMANAL DE ALICE VIEIRA

Escrito por em Agosto 12, 2020

O VALOR DE UM ABRAÇO


Ouço e leio as terríveis notícias dos incêndios. 

Por toda a parte. Como todos os anos.

É porque as matas não estão limpas, é porque foram incendiários, é porque as pessoas não têm cuidado , enfim,  todos os anos é o mesmo 

Os incêndios sempre me afligiram muito, possivelmente porque passei a minha infância perto da Serra de Sintra—que então era o lugar mais sacrificado.

Mas nenhum me marcou, como o incêndio do Chiado.

Primeiro, porque estava em São Paulo e, sem telemóveis, ninguém entendia o que se passava.

O que se dizia, depois das informações mais desencontradas, era que todo o centro histórico de Lisboa ardia.

Eram duas da manhã, eu estava com um grupo de amigos num restaurante a tentar saber o que podíamos fazer, quando eu decidi não esperar mais.

“Vou-me embora, chego ao hotel e vejo qual é o próximo avião para sair daqui “

Todos protestaram, “mas tu estás doida ,às 2 da manhã sozinha numa rua de S. Paulo???”

“Não me interessa, façam o que quiserem, eu vou-me embora”

E lá fui, a correr pelo meio da rua, quando de repente vejo um negro, muito sujo, muito bêbado, a estender-me os braços.

Assustei-me, tentei escapar, mas para onde eu ia, ele ia.

E de repente abraça-me , e desata num pranto que nunca mais acabava. Depois olhou para mim,  e disse:

“Ai moça, me abraça que eu estou muito triste…Eu estou muito triste, moça,  porque Lisboa está a arder…”

Acho que foi o maior abraço que dei em toda a minha vida.


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