AS MINHAS HISTÓRIAS NAS "ONDAS DO ÉTER" CRÓNICA SEMANAL DE ALICE VIEIRA
Escrito por Jorge Gaspar em Agosto 12, 2020
O VALOR DE UM ABRAÇO

Ouço e leio as terríveis notícias dos incêndios.
Por toda a parte. Como todos os anos.
É porque as matas não estão limpas, é porque foram incendiários, é porque as pessoas não têm cuidado , enfim, todos os anos é o mesmo
Os incêndios sempre me afligiram muito, possivelmente porque passei a minha infância perto da Serra de Sintra—que então era o lugar mais sacrificado.
Mas nenhum me marcou, como o incêndio do Chiado.
Primeiro, porque estava em São Paulo e, sem telemóveis, ninguém entendia o que se passava.
O que se dizia, depois das informações mais desencontradas, era que todo o centro histórico de Lisboa ardia.
Eram duas da manhã, eu estava com um grupo de amigos num restaurante a tentar saber o que podíamos fazer, quando eu decidi não esperar mais.
“Vou-me embora, chego ao hotel e vejo qual é o próximo avião para sair daqui “
Todos protestaram, “mas tu estás doida ,às 2 da manhã sozinha numa rua de S. Paulo???”
“Não me interessa, façam o que quiserem, eu vou-me embora”
E lá fui, a correr pelo meio da rua, quando de repente vejo um negro, muito sujo, muito bêbado, a estender-me os braços.
Assustei-me, tentei escapar, mas para onde eu ia, ele ia.
E de repente abraça-me , e desata num pranto que nunca mais acabava. Depois olhou para mim, e disse:
“Ai moça, me abraça que eu estou muito triste…Eu estou muito triste, moça, porque Lisboa está a arder…”
Acho que foi o maior abraço que dei em toda a minha vida.