AS MINHAS HISTÓRIAS NAS “ONDAS DO ÉTER” CRÓNICA SEMANAL DE ALICE VIEIRA
Escrito por Jorge Gaspar em Outubro 31, 2020
DICAS PARA AFUGENTAR AMIGOS…
Em tempos normais, era normal irmos visitar os nossos amigos.
Mas às vezes a vontade de recebermos o amigo que nos batia à
porta não era lá muita. Por isso a minha amiga Clara abria
sempre a porta com uma mala ao ombro. Se lhe apetecia estar
com aquela amiga, exclamava: “Que sorte! Estou mesmo a
chegar a casa!” Se não lhe apetecia, fazia um ar triste e dizia
“que chatice, estou mesmo a sair!”
Lembrei-me disto agora ao ler uma receita de cozinha, e um
texto que a acompanhava. Era uma receita de “Baba de Camelo”
e a história de como tinha chegado até nós.
A receita é portuguesa e foi inventada nos anos quarenta por
uma dona de casa, de seu nome Valentina. Uma tarde abriu a
porta ao marido—que trazia atrás de si uma data de amigos.
“Arranja aí um bolo para eles saírem daqui com a boca doce!”
–ter-lhe-á dito o marido.
O pior é que na despensa não havia nada. Uns ovos, uma lata de
leite condensado e pouco mais. Que se fazia com aquilo?
Então a D. Valentina decidiu ser esperta: ia fazer uma sobremesa
horrível e dar-lhe um nome ainda mais horrível para que eles se
recusassem a comer e se fossem embora.
Misturou tudo o que tinha na despensa, bateu umas claras em
castelo para aquilo parecer muito e, depois de magicar algum tempo, chamou-lhe “baba de camelo” Riu-se: “vão todos porta
fora, agoniados!”
Abreviando: perante o ar espantado dela, todos adoraram a
sobremesa, raparam os pratos e nem pensaram no nome. E
mais: pediram-lhe que, de cada vez que eles lá voltassem, ela
lhes desse aquilo a comer.
Se a D.Valentina tivesse posto uma malinha ao ombro, como a
minha amiga Clara, talvez tivesse tido mais sorte. Nós é que
ficaríamos sem este manjar dos deuses.