AS MINHAS HISTÓRIAS NAS “ONDAS DO ÉTER” CRÓNICA SEMANAL DE ALICE VIEIRA
Escrito por Jorge Gaspar em Novembro 7, 2020
CUMPRIR HORÁRIOS

E lá vem novo confinamento.
Foi por isso que decidi voltar para Lisboa. Há meses que
não vinha cá, e se não fosse a D. Francisca, minha porteira há
uma data de anos, sempre de olho na minha casa e com a chave
para o que fosse preciso –não sei o que poderia ter sido.
Mas estava tudo bem, tudo limpinho e no seu lugar. E, pelos
vistos, até tinha prolongado o seu horário de trabalho pois devia
sair ao meio dia e eu cheguei quase à 1 hora e ela ainda lá estava
e até me ajudou trazer as coisas para casa.
Consultei a minha agenda para ver o que era preciso fazer hoje,
um telefonema para este, outro para aquele. O meu amigo
Ricardo, com quem ia almoçar, pareceu-me ligeiramente
aborrecido.
“Podias ter prevenido que vinhas a esta hora…Mas pronto,
vamos lá, não me faz diferença”
A esta hora? Mas era a hora que eu tinha marcado na minha
agenda depois de ter combinado com ele…Anda tudo doido.
À noite pus o despertador para as 8, porque como toda a gente
sabe, saio sempre de casa às 9 da manhã. E se por acaso saio
mais tarde ou mais cedo deixo sempre um papelinho na gaveta
da D.Francisca a avisá-la.
O despertador tocou, levantei-me, arranjei-me e lá vou eu.
Cá em baixo encontro a D.Francisca, zangada:
”Então sai a esta hora e não me avisa? Já estava para ir a sua
casa ver o que lhe tinha acontecido”
“Ó D. Francisca, mas eu saio sempre às 9 horas!”
“Pois sai! O pior é que já passa das dez!”
Não entendo nada.
E é então que de repente percebo o que está a acontecer desde
que cheguei… Há meses que não vinha a casa. E todos os relógios
ainda estão na hora de verão. Ou seja, todos com uma hora a
mais…