AS MINHAS HISTÓRIAS NAS “ONDAS DO ÉTER” CRÓNICA SEMANAL DE ALICE VIEIRA
Escrito por Jorge Gaspar em Novembro 14, 2020
PALHAÇOS E PAPÕES
O humor é uma coisa muito séria e varia de país para país.
Lembro-me que um dia, logo em 1974 –quando todos nós
queríamos ir à Rússia e todos os russos queriam cá vir—da
chegada a Lisboa de um artista de circo russo, Oleg Popov,
considerado então como o maior palhaco do mundo. Palhaço
pobre típico, enormes sapatos, cara muito pintada, nariz
vermelho.
Já não me lembro porquê, o Popov veio uma tarde cá a casa.
Vestido de palhaço, claro. Fiquei muito contente, os meus filhos
tinham então 4 e 5 anos, que bom terem um espectáculo do
maior palhaço do mundo só para eles.
Nunca me hei de esquecer da cara deles, muito sérios, a olharem
para as habilidades do palhaço e depois para mim, com aquele ar
de “mas o que é que este tipo está aqui a fazer ?” E eu, claro, a
mandá-los dar palmas mas, no íntimo, a dar-lhes razão. Aquilo
não tinha graça absolutamente nenhuma. Mas possivelmente
para os russos teria.
E se hoje me lembrei disto foi por causa de uma notícia muito
breve que li há dias numa revista. Então lá se contava que na
China há agora um palhaço, chamado “o Tio Mau”, com grande
popularidade.
As famílias encomendam-lhe vídeos personalizados (cada um dirigido à criança ou crianças a que se destina )—onde eles, com a cara pintada de negro e orelhas como o diabo, ameaçam as crianças com coisas terríveis que lhes vão acontecer se não comerem tudo, ou se fizerem birras para
irem para a cama. E dizem que dá resultado.
(Lembram-se do nosso ternurento “papão”, que estava sempre
em cima do telhado mas nunca aparecia?…)
Pois.
Mas como todos nós sabemos, há palhaços e papões para todos
os gostos…