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AS MINHAS HISTÓRIAS NAS “ONDAS DO ÉTER” CRÓNICA SEMANAL DE ALICE VIEIRA

Escrito por em Agosto 29, 2020

DE QUE SE MORRE ?

Não se morre só de Covid, nem de desastre de automóvel, nem
de crime violento.
Estes são casos que nenhum canal de televisão conta, que
normalmente nem vêm nos jornais, ou vêm numa pequena
notícia que não chama a atenção.
Morre-se de solidão.
De se estar sozinho, e ninguém dar por nós.
Numa (pequena) notícia leio que uma mulher foi há dias
encontrada morta, deitada num sofá, na sua casa num prédio
nos arredores de Lisboa. Ao seu lado um cão—também morto.
Tinha 54 anos e, segundo a autópsia, já devia estar morta há dois
meses e não apresentava sintomas de nenhuma doença.
Foi o pai que a encontrou. Disse que não a via desde junho.
Tentara telefonar-lhe, mas ninguém atendera. Pensou que
tivesse saído para qualquer sítio, depois de tanto tempo em
confinamento.
Naquele dia tinha decidido ir lá a casa, para ver o que tinha
acontecido.
Dois meses depois.
Como é possível morrer assim? E afinal de que morreu ela?

Pegou no cão, deitou-se no sofá e ali ficou sem comer nem beber
à espera da morte?
E o cão não ladrou nem uivou que nem um doido?
E os vizinhos não deram por nada?
O confinamento já tinha terminado, é verdade, mas toda a gente
do prédio esteve fora durante dois meses?
E pronto, a história ficou por aqui.
Estou a ver um caso destes nas mãos de Poirot, Maigret, o
Inspetor Columbo ou o Father Brown ( os meus detetives
preferidos…)—e de certeza que qualquer deles descobria uma
razão para tudo isto ter acontecido desta maneira.
Eu confesso: ainda estou à espera de uma notícia que explique
todo este mistério.
E depois juro que venho aqui contar tudo.


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