AS MINHAS HISTÓRIAS NAS “ONDAS DO ÉTER” CRÓNICA SEMANAL DE ALICE VIEIRA
Escrito por Jorge Gaspar em Setembro 12, 2020
TECNOLOGIA: LIBERDADE, ANGÚSTIA, SUBMISSÃO.
Até ao princípio da noite de hoje não sabia se podia mandar este
texto ou não. E só quando chegar ao fim é que sei.
De repente o vírus deve ter entrado no meu computador e o
desgraçado, durante três dias, nem uma nem duas. Recorro ao
meu técnico (o meu salvador nestas ocasiões), ele dá-lhe voltas e
mais voltas, depois mete-o debaixo do braço e leva-o para casa
para o arranjar. Trouxe-o mas ainda não está completamente
bem, na 3 feira volta cá.
E eu penso como estas máquinas fazem de tal maneira parte das
nossas vidas, que não podemos viver sem elas.
E recordo os meus primeiros tempos de jornalista, quando os
computadores ainda nem eram sonhados por cá.
Eu vivia na Ericeira, estava grávida, e todas as manhãs tinha de
me meter no carro para ir até ao DL. Sem autoestradas, eu
demorava uma hora e meia na ida e outra hora e meia na volta. E
nem sequer tínhamos telefone em casa. Eu devia ter um ar tão
cansado que um dia o Sttau Monteiro chamou-me e disse “não
venhas nesta semana, precisas mesmo de descansar”.
Olhei para ele, espantada.
“E a minha secção, quem a escreve?”
“Fazemos assim, tu arranjas um telefone donde possas ligar ,
dás-me um toque só para me dizeres o número de telefone, eu
depois ligo todos os dias à hora que combinarmos , tu ditas-me o texto, e eu escrevo tudo. Depois alguém passa à máquina e
leva para a tipografia.”
“Ó Sttau , mas tu sabes, que os meus textos são grandes, para aí
quatro páginas…”
“E então? “
Ninguém, senão ele, me faria isto.
E durante muitos dias ( e de vez em quando ele voltava a fazer
isto…) lá ia eu passar a manhã para casa do meu primo José
Franco, que fazia lindíssimos bonecos de barro e tinha telefone
–para onde o Sttau ligava.
E o jornal fazia-se
Se hoje alguém poderia trabalhar assim…