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AS MINHAS HISTÓRIAS NAS “ONDAS DO ÉTER” CRÓNICA SEMANAL DE ALICE VIEIRA

Escrito por em Setembro 26, 2020

A NOSSA MÁ MEMÓRIA

Fez-me um bocado de impressão que a morte da Juliette Gréco tenha passado tão despercebida entre nós.

Eu sei que muitos programas de televisão são gravados com muita antecedência, ou uma data deles por dia , e que depois seja difícil estar a par com estas coisas.

Eu bem sei que as informações do Covid,  e a política,  e as mortes na estrada, e os jogos de futebol levam o tempo e o espaço quase todo.

Mas, caramba!, não era a Julieta ali da esquina, era um grande nome da música, que os portugueses conheciam bem ( a última vez que cá esteve foi em 2008 , não foi na pré-história!, já com 80 anos –e, como sempre acontecia de cada vez que cá vinha cantar,  com  um êxito enorme) 

Uma mulher com uma vida extraordinária—criada sem pais, pertenceu à Resistência, foi presa pela Gestapo…–e que foi a musa do “existencialismo”…

Morreu com 96 anos.  E, segundo a família, cantou quase até ao fim da sua vida.

Pois. Morreu tarde demais, e a nossa memória é cada vez mais curta. Nem me atrevo a perguntar a gente mais nova o que pensavam dela—porque o mais certo é que me respondam  “Juliette… quê? “

Como nós, os mais velhos, somos de um tempo em que ainda não havia televisão, e a música que mais se ouvia, na rádio e nos discos,  era a música francesa  (“ a França é o país da cultura”, lembro-me de ouvir os velhotes lá de casa) claro que agora recordamos tudo isso.

Não me surpreende que os mais novos não conheçam— o que me faz pena é que ninguém os informe .  Então para que servem os mais velhos? Só para se queixarem dos ossos e fazerem anúncios aos aparelhos auditivos?


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