AS MINHAS HISTÓRIAS NAS “ONDAS DO ÉTER” E ESTÁ AÍ O NATAL
Escrito por Jorge Gaspar em Dezembro 19, 2020
CRÓNICA SEMANAL DE ALICE VIEIRA.
Quando eu era criança, não gostava do Natal.
Compravam o peru com antecedência, depois embebedavam-no
e ele andava aos zigue-zagues pela cozinha, e eu corria cheia de
medo dele.
Depois chegavam os tios da aldeia, mais as mulheres . Todos eles
tinham uma mulher da aldeia e uma de Lisboa. Esta era a única
vez em que eles traziam as da aldeia, e as de Lisboa ficavam lá
sossegadinhas em suas casas.
A minha casa era enorme e eles dormiam lá.
Mas havia uma coisa boa : todas as noites iam à revista no
Parque Mayer onde se babavam olhando para as coristas. Às
vezes levavam-me e eu adorava, e eles gostavam de me levar
porque no fim eu pedia sempre para ir aos bastidores ver os
artistas (foi assim que eu fiquei grande amiga da Beatriz Costa
até ela morrer ) e eles justificam-se às mulheres ,“a menina quer
ir lá dentro e não pode ir sozinha”, e pronto, eu ia ter com os
actores, e eles iam babar-se mais um bocado com as coristas…
Depois em casa fazia-se a árvore, onde eu nunca podia tocar
porque podia partir alguma coisa, e as prendas eram
extraordinárias: os tios da aldeia davam-me todos um envelope
com dinheiro que a tia que me criava se encarregava de guardar,
e a tia que me criava dava-me lençois de linho, colchas, etc,
“para o teu enxoval”.
Juro: ainda hoje estão dentro de uma arca , tal qual como para
lá entraram. Tentei dá-los aos meus filhos e netos, mas
ninguém quer porque o linho dá um trabalhão a lavar e a passar
a ferro e eles não estão para isso.)
Acho que só comecei a gostar do Natal quando a minha filha
nasceu. E com ela nasceu a magia dos presépios- que já vao em
cerca de 200.
E pronto.
Bom Natal—mas com todas as cautelas: isso é a
melhor prenda que podemos dar uns aos outros.