EDITORA ABYSMO LANÇA REVISTA DIGITAL "TORPOR"
Escrito por Jorge Gaspar em Maio 21, 2020
É digital, gratuita, e ambiciona refletir sobre os efeitos da pandemia sobre as artes e a vida. Chegou a 20 de maio às 20h20.
Pode dizer-se que é uma pedrada no charco. Ou que está a remar contra a corrente. Ou ainda que é um projeto atento aos movimentos das gaivotas: quando estas estão em confinamento na terra, é porque há tempestade no mar, e vale a pena investigar tudo o que por lá se passa. Ditados prontos a servir mas onde se poderia mergulhar o arrastão deste novo projeto editorial alinhado com o ar dos tempos: a editora independente abysmo vai lançar uma revista digital gratuita, que nasce assumidamente no contexto da Covid-19 e pretende, dizem os seus responsáveis, “captar o efeito que a mesma, e o respetivo confinamento, teve e terá tanto nas artes como na vida”. Ambicionando ser um espaço de ensaio para “criadores de toda a espécie”, Torpor. Passos de Voluptuosa Dança na Travagem Brusca tem direção editorial de João Paulo Cotrim, fundador e responsável da abysmo, e imagem gráfica de José Teófilo Duarte.
João Paulo Cotrim, diretor editorial da nova revista Torpor
Na vasta lista de colaboradores deste projeto em formato virtual, há marinheiros com muitos portos percorridos: autores como Alberto Pimenta, António de Castro Caeiro, António Mega Ferreira, Filipe Homem Fonseca, Luis Carmelo, Paulo José Miranda, Sérgio Godinho, Valério Romão, e poetas como Inês Fonseca Santos, Jorge de Sousa Braga, Matilde Campilho e Rita Taborda Duarte. Mas as páginas da Torpor dizem-se igualmente abertas a todo o cardume criativo: artistas plásticos, designers, divulgadores científicos, escritores, ensaístas, fotógrafos, jornalistas, poetas, tradutores… Na apresentação do projeto, encontram-se nomes como o do pianista João Paulo Esteves da Silva, dos artistas plásticos Francisco Vidal e João Queiroz, dos ilustradores André Carrilho, António Jorge Gonçalves, João Fazenda e Nuno Saraiva, ou dos jornalistas Nuno Miguel Guedes e Inês Maria Menezes.
“Tendo a abysmo autores variados e de grande dinamismo, vários deles sem qualquer pudor no uso das redes para ensaio de novas formas de contar ou meio de publicação, apercebemo-nos cedo na crise pandémica que não haviam parado de produzir de muitos modos: poemas, contos, pensamento, desenho, pintura, humor, muitas vezes misturando os vários géneros e linguagens. Ou o seu trabalho tinha sido apanhado pela quarentena ou tentavam capturar o ar dos tempos, como se estivessem a pensar alto. De par com os autores da casa, um sem número de amigos ia comentando e produzindo e jogando nas redes, pelo que se afigurava urgente não perder no fluxo aquilo que era bastante mais que espuma dos dias. A estes juntaram-se depois outros com trabalhos inéditos ou feitos propositadamente”, descreve João Paulo Cotrim.
O novo normal emergido da crise provocada pelo coronavírus, a autobiografia e as reflexões trazidas pelo isolamento social, o regresso ao espaço doméstico da casa, as cidades como “grande metáfora do tempo”, a omnipresença da morte e do medo, são temas presentes na estrutura editorial da revista, que, sublinha o seu diretor editorial, “goza de grande liberdade, condição indispensável da sua essência”. Lançada em contracorrente numa altura em que crescem as preocupações com as condições de sobrevivência do sector dos media, amplificadas pela pandemia, a Torpor. Passos de Voluptuosa Dança na Travagem Brusca navegará no espaço digital, em site e em formato pdf. Ou seja, “online e offline, experimentando, afinal, este jogo entre dentro e fora, entre a ligação ao mundo e o recolhimento íntimo que só a leitura permite”. “Acabou sendo uma sacudidela no torpor”, conclui João Paulo Cotrim.
Torpor foi lançada em www.torpor.abysmo.pt, a 20 de maio de 2020, às 20h20, em formato parcial: uma primeira parte da revista digital será divulgada nessa data, a que se seguirão uploads sucessivos até ao fim de semana. No dia 25 maio, será então disponibilizada uma versão em pdf.
(via: visao.sapo.pt)