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ESTREIA FILME "O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS" DE JOÃO BOTELHO A 1 OUTUBRO

Escrito por em Setembro 23, 2020

“O Ano da Morte de Ricardo Reis”, do realizador João Botelho a partir da obra homónima de José Saramago, estreia nas salas de cinema de todo o país a 1 de outubro.

Depois de Filme do DesassossegoOs Maias e PeregrinaçãoJoão Botelho apresenta no São João, em estreia mundial, O Ano da Morte de Ricardo Reis, a sua adaptação do romance homónimo de José Saramago. Entrelaçando os fios da ficção e da História, o escritor concebeu um encontro particular, o do defunto Fernando Pessoa, o criador, com uma das suas criaturas, o heterónimo Ricardo Reis, regressado ao país ao fim de 16 anos de exílio no Brasil. 1936 é o ano de todos os perigos, do fascismo de Mussolini, do nazismo de Hitler, da terrível guerra civil espanhola e do Estado Novo de Salazar. Pessoa e Reis são dois lúcidos observadores da agonia de um tempo, tão similar ao que vivemos. Nessa relação intrometem-se duas mulheres, Lídia e Marcenda, as paixões carnais e impossíveis de Ricardo Reis. “Eu não sou nenhum fantasma”, grita Pessoa a Reis. É que o texto é real e concreto, matéria trabalhada por João Botelho nesta outra conversa (in)acabada, prosseguindo a prática recente de transposição fílmica de grandes obras da literatura portuguesa. “Vida e Morte é tudo um”: a esse realismo fantástico, a literatura e o cinema têm acesso privilegiado.

um filme de João Botelho a partir da obra de José Saramago

realização e argumento João Botelho imagem João Ribeiro montagem João Braz direção de som Jorge Saldanha montagem e mistura de som Paulo Abelho e Tiago Inuit música Daniel Bernardes decoração Cláudia Lopes figurinos Silvia Grabowski caracterização Rita Castro assistência de realização António Pinhão Botelho direção de produção Pedro Bento produtor Alexandre Oliveira

com Chico Diaz, Luís Lima Barreto, Catarina Wallenstein, Victoria Guerra, João Barbosa, Rui Morisson, Hugo Mestre Amaro, Gustavo Vargas, Dinis Gomes, Rafael Fonseca, Cláudio da Silva, Francisco Vistas, Hugo Silva, Luís Lucas, José Martins, André Gomes, Miguel Monteiro, Márcia Breia, Luísa Cruz, Marcello Urgeghe, Solange Santos, Francisco Tavares, Paulo Filipe Monteiro, Ricardo Aibéo, Dinarte Branco, Pedro Lacerda, Mário Sabino Sousa, Alexandra Rosa, Carolina Serrão, Bruno Ferreira

produção Ar de Filmes coprodução Fundação José Saramago

duração 2:08 M 14 anos

Depois da estreia mundial no Teatro Nacional São João, no Porto, o filme O Ano da Morte de Ricardo Reis, adaptação do realizador João Botelho à obra homónima de José Saramago, será exibido nos dias 22 e 23 de setembro, no CCB (Centro Cultural de Belém).

Para assinalar o acontecimento, a Fundação José Saramago programou um ciclo de conversas que terá lugar na sua sede – Casa dos Bicos – nos dia 23 e 30 de setembro, às 18h30. Na primeira sessão, estarão à conversa o realizador João Botelho e os atores Luís Lima Barreto (Fernando Pessoa), Chico Díaz (Ricardo Reis) e Catarina Wallestein (Lídia).
No dia 30, o convidado é o historiador Quintino Lopes, que falará sobre a pesquisa realizada a partir dos materiais preparatórios de José Saramago para o romance.A entrada é livre, sujeita à lotação da sala (cuja capacidade está limitada a 35 lugares).

ENTREVISTA A JOÃO BOTELHO

​“O Ano da Morte de Ricardo Reis” chega ao cinema. “É um aviso enorme sobre a humanidade”. O realizador assume que foi “um grande risco” pegar na obra do Prémio Nobel da Literatura.

“Corte e cole, que é o que eu faço!”, foi assim que terminou a entrevista que João Botelho deu à Renascença sobre o seu novo filme. “O Ano da Morte de Ricardo Reis” já teve a sua antestreia, mas só chega às salas de cinema, ao grande público, a 1 de outubro. O realizador assume que pegar no romance homónimo do Nobel da Literatura José Saramago foi “perigoso”.

“Quando se pega num grande texto, é perigoso. O cinema não é literatura. É outra coisa. Para mim, a literatura tem de ser uma matéria que se respeita”, explica o realizador.

Filmado a preto e branco, a película tem como protagonistas o ator brasileiro Chico Diaz, que assume a personagem de Ricardo Reis, e o português Luís Lima Barreto, como Fernando Pessoa. “O Ano da Morte de Ricardo Reis” marca um regresso do realizador João Botelho ao universo do poeta dos heterónimos que, confessa, o acompanha muitos anos.

Segundo Botelho, “Saramago escreveu um romance prodigioso, com uma oralidade diferente”.

Num filme onde, por vezes, algumas falas são em verso, as personagens principais, de acordo com a leitura do realizador, não são Pessoa ou Ricardo Reis. “O personagem principal é o confronto entre o criador e a criatura”, ou seja, o diálogo entre o poeta de “A Mensagem” e um dos seus heterónimos.

João Botelho destaca também, como epicentro da ação do filme, o ano de 1936. “É o ano de todos os perigos. É o início do fascismo em Itália, do nazismo, da guerra civil de Espanha, do fascismo português”. No olhar critico do cineasta, há um paralelismo com os dias de hoje, “com os Bolsonaros, os Trumps, os Erdogans”. Para Botelho, “tudo isto é um aviso enorme para a Humanidade. O mal começa a triunfar”.https://www.youtube.com/embed/JRmITqkIK0U

Na entrevista ao telefone, enquanto João Botelho estava no Chiado, o realizador explica-nos que pretende “inquietar” quem vê o seu cinema, para que “as pessoas mudem”.

Na sua definição, o cinema “não é o que se passa, mas como se filma”, daí ter optado por uma estética a preto e branco, num jogo de luz e sombra.

Em “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, Botelho quis regressar à essência da sétima arte. “Os otimistas surgem na luz, os pessimistas na sombra”, explica o realizador sobre a forma como rodou esta longa metragem. Ele, que admite não ter alterado nada no texto de Saramago, diz que neste filme “há um regresso a uma certa inocência do cinema, em que as pessoas viam e ouviam. O cinema não é para saltar lá para dentro. É para estar atento”.

Tal como o livro, o filme reconstitui os nove meses depois da morte de Fernando Pessoa. “É um período igual ao da gestação”, sublinha Botelho, em que o poeta surge como um fantasma ao seu heterónimo Ricardo Reis.

Depois de ter feito “O Filme do Desassossego”, “Os Maias” e a “Peregrinação”, o realizador opta agora por Saramago e convocou além de Luís Lima Barreto e Chico Diaz, as atrizes Catarina Wallenstein e Victória Guerra para os principais papeis femininos.

A banda sonora original é assinada por Daniel Bernardes. Nas palavras de João Botelho, “é uma música original, para pontuar e arrastar as pessoas para aquele precipício da inquietação”.

No olhar do realizador “o cinema não deve consolar, deve inquietar as pessoas. Deve pôr problemas e não deve resolvê-los”. Para Botelho, a música ajuda a criar esse ambiente.

Além do filme, estará patente uma exposição no CCB com os materiais gráficos do filme e com o material utilizado por José Saramago para as pesquisas para o romance, como as anotações tiradas na agenda a partir das pesquisas feitas na Biblioteca Nacional, e réplicas dos jornais da época.

A estreia internacional será no Festival de Sevilha, e está já marcada a sua participação na Mostra de Cinema de São Paulo. Dentro de um ano vai dar origem a uma série de cinco episódios, a exibir pela RTP.

A adaptação de “O Ano da Morte de Ricardo Reis” teve um custo de 1,5 milhões de euros, e contou com o apoio do Instituto do Cinema e do Audiovisual, do Ministério da Cultura, da Câmara Municipal de Lisboa, do Turismo de Portugal e da RTP.


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