FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN
Escrito por Jorge Gaspar em Fevereiro 23, 2021
23 FEVEREIRO 19:00
Sinfonia n.º 9 de Chostakovitch – Orquestra Gulbenkian / Lorenzo Viotti
PROGRAMA
Orquestra Gulbenkian
Lorenzo Viotti Maestro
Dmitri Chostakovitch (1906 – 1975)
Sinfonia n.º 9, em Mi bemol maior, op. 70
– Allegro
– Moderato
– Presto
– Largo
– Allegretto – Allegro
Composição: 1945
Estreia: Leninegrado, 3 de novembro de 1945
Duração: c. 27 min.
A União Soviética foi um dos países mais afetados pela Segunda Guerra Mundial e o seu esforço patriótico refletiu-se na criação de obras musicais de cariz propagandístico. Depois de várias peças de caráter patriótico, Chostakovitch apresentou a sua Sinfonia n.º 9. O compositor tinha uma relação complexa com o regime, sendo perseguido e glorificado em simultâneo. Estreada em Leninegrado a 3 de novembro de 1945, a obra frustrou as expectativas das autoridades, pois é uma meditação irónica sobre as consequências da guerra. Chostakovitch inspira-se no Classicismo Vienense, distorcendo-o com fins expressivos.
O primeiro andamento encontra-se numa forma em que dois temas contrastantes são apresentados, desenvolvidos e reexpostos. O primeiro utiliza elementos do estilo clássico, transfigurados para enfatizar o grotesco e criar um efeito de distanciamento, e o segundo é uma marcha que recorre a instrumentos como o flautim, a caixa e o trombone para criar um ambiente militarista. O desenvolvimento desenrola-se em torno de diversas células e atribui solos a alguns instrumentos.
A reexposição é sobreposta ao desenvolvimento, que prossegue até ao final abrupto do andamento. A textura leve do Moderato é o fundo ao qual se sobrepõe a melodia sinuosa dos clarinetes. A adição de instrumentos de sopro pontuados pelas cordas adensa a textura até ao regresso da atmosfera inicial, catalisada pelo solo de flauta.
O Presto brincalhão destaca o clarinete, que se sobrepõe a um contexto dissonante e pontuado pela percussão. Um solo virtuosístico de trompete e um crescendo intensificam a tensão e preparam o regresso do tema inicial, conduzindo ao andamento seguinte sem interrupção. No Largo pontifica uma solenidade trágica centrada num lamento recitado do fagote, apresentada sobre um acompanhamento esparso. O final, Allegretto – Allegro, remete para uma atmosfera circense encarnada pelo primeiro tema, de caráter irónico e satírico, mas que evoca a tragédia. Esse ambiente é interpolado por episódios contrastantes que aceleram e sobrepõem elementos, atingindo o clímax num final cinético em que pontifica o tutti.
João Silva