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MANUAL DE ESCRITA CRIATIVA

Escrito por em Março 16, 2021

3.ª edição

Da autoria de João de Mancelos.

Chancela  Edições Colibri

 

 

Tem talento para as letras, mas faltam-lhe as técnicas e os exercícios para o desenvolver? Não dispõe de tempo ou paciência para frequentar oficinas de escrita criativa? Então, este livro bem-humorado e prático é para si. Nele, João de Mancelos explica as técnicas fundamentais para escrever um conto, novela ou romance. Propõe ainda alguns exercícios úteis e divertidos, que pode fazer individualmente ou em grupo. Aprenda a recolher ideias, desbloquear a inspiração, gerar suspense, construir uma personagem irresistível, criar uma atmosfera mágica, e muito mais!
Manual de Escrita Criativa constitui o livro ideal para autores aprendizes, amantes da leitura, jornalistas, publicitários e formadores de Escrita Criativa.
João de Mancelos nasceu em Coimbra, em 1968. É professor universitário e escritor. Possui licenciatura, mestrado, doutoramento, pós-doutoramento e agregação na área de letras. Publicou vários livros de ensaio, poesia e ficção. Encontra-se representado em antologias nacionais e internacionais. Foi distinguido em diversos concursos literários. Dois contos seus foram adaptados a teatro e um a cinema, no Brasil.
(Excerto)
Pontapé de saída
Costumo dizer aos meus alunos de Escrita Criativa que o título é o cartão-de-visita de
uma obra, para o bem e para o mal. Muitas vezes, quem passeia por entre as estantes de uma
livraria detém-se num romance porque o seu nome suscita curiosidade ou causa estranheza. Há
pouco tempo adquiri o segundo volume da saga Millenium, de Stieg Larsson, precisamente por
causa do título provocante: A Rapariga que Sonhava com uma Lata de Gasolina e um Fósforo.
Tanto os escritores como as editoras prestam atenção à escolha do título de uma obra,
porque um nome apelativo vende. No entanto, batizar um livro nem sempre constitui uma
tarefa fácil ou consensual. Certos textos que hoje fazem parte da biblioteca da maioria dos
leitores apresentaram, provisoriamente, títulos banais ou disparatados. O célebre romance de
aventuras A Ilha do Tesouro, de Robert Lewis Stevenson, esteve quase para ser chamado O
Cozinheiro Marítimo. Talvez um pirata gourmet o comprasse, sem hesitação, mas duvido do
êxito de um livro com tal nome. Lev Tolstoi, o mestre da literatura russa, rejeitou o horrendo
lugar-comum Tudo Está Bem quando Termina em Bem a favor de um título lapidar: Guerra e
Paz. Charles Dickens foi outro autor que magicou constantemente no batismo dos seus
romances. Para Tempos Difíceis, uma obra-prima que espelha as dificuldades do povo durante
a Revolução Industrial, listou catorze títulos possíveis, entre os quais o risível Dois e Dois São
Quatro!
Qual o segredo de um bom título? Usando uma metáfora futebolística, o nome de um
livro deve ser como o pontapé de saída de um jogo: curto e bem apontado. Um título breve,
como Tubarão, de Peter Benchley, é mais facilmente memorizável do que um longo. Uma
exceção de cinco estrelas é o nome do romance histórico de Mário de Carvalho, Um Deus
Passeando pela Brisa da Tarde. É extenso, mas a sua beleza quase lírica torna-o irresistível.
Outros títulos apelam diretamente à curiosidade do leitor. O Diário Secreto de Adrian
Mole, o célebre romance de Sue Townsend, inclui palavras-chave cruciais, que convidam à
coscuvilhice. Afinal, quem não tentou espreitar o diário de uma irmã mais nova, para conhecer
os esqueletos que ela guarda no armário?
Contudo, por vezes, a simplicidade funciona brilhantemente. De longe, a escolha mais
prática de um título cabe ao meu ex-professor Helder Macedo, que chamou Sem Nome ao seu
romance mais satírico. O motivo foi simples: era esta a designação do ficheiro Word em que
estava a trabalhar e acabou por se habituar a ela.
Sugiro-lhe que elabore sempre uma lista de títulos possíveis para as suas narrativas ou
poemas, e que a discuta com colegas e amigos. Qual é o nome mais original? Será adequado ao
assunto e conteúdo do texto, focando um aspeto relevante deste? É facilmente memorizável
pelo leitor? Não se confunde com outros títulos já existentes no mercado? Se a resposta a estas
quatro questões for afirmativa, o escritor aprendiz terá dado um bom pontapé de saída.

Opnião dos Leitores

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