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MARIA MÁXIMA VAZ “MEMÓRIAS PRESENTEANDO A REALIDADE”

Escrito por em Novembro 8, 2020

Um proprietário de Odivelas no Séc. XVIII
Um título de Nobreza – Conde de Santiago
Um cargo na Corte – Aposentador – Mór

O Condado de Santiago de Beduído foi criado por D. Afonso VI (carta de 12/11/1667), e foi primeiro Conde D. Lourenço de Sousa de Meneses.

O cargo de Aposentador – Mor é muito anterior. O Aposentador –Mor mais antigo, de cujo nome tive conhecimento, foi Nuno Furtado de Mendonça, no reinado de D. Afonso V (1438/1481). Era da responsabilidade deste, cuidar da acomodação da Corte, quando em deslocação pelo país, para cujo desempenho precedia, de um ou dois dias, o rei e seus acompanhantes.

Este cargo andou na família Mendonça Furtado, à qual pertencia, pelo lado paterno, o Arcebispo de Braga D. Rodrigo de Moura Teles, cujo brasão assinala a entrada principal da Quinta da Memória. Pertenciam à alta nobreza. A título informativo, direi que este D. Nuno Furtado de Mendonça era avô de D. Jorge de Lencastre, o filho bastardo de D. João II, que, por vontade de seu pai, teria sido rei. A mãe, filha de Nuno Furtado de Mendonça, era D. Ana de Mendonça, Comendadeira de Santos.

Mas o brasão da nossa quinta, pertencia à família materna do Arcebispo, os Moura Telles. É que tanto o brasão como os títulos do pai, pertenciam, por direito hereditário, ao filho mais velho, que não era ele.

Assim, esta propriedade, tanto pode ter vindo de um costado como do outro.

Vir à posse dos Condes de Santiago é mais fácil de explicar.

O nosso Arcebispo D. Rodrigo, tinha uma irmã, D. Luísa Maria de Mendonça e Távora, casada com o primeiro Conde de Santiago – D. Lourenço de Sousa e Meneses.

Como não tinha herdeiros directos, que eu saiba, admito que tenha deixado a quinta da Memória a esta sua irmã.

Até à primeira República, as mulheres não eram proprietárias dos seus bens, pelo que, o legítimo dono passou a ser o seu marido.

Um dos cargos de que era titular, era o de Aposentador – Mór. Como e porquê, não me foi ainda possível apurar. Pelas personalidades que o desempenharam, parece-me que não se manteve ligado a uma família em especial, até chegar aos Condes de Santiago, os Sousa/Meneses.

Por outra irmã do Arcebispo, D. Maria de Ataíde, havia também laços de familiaridade com uma família ligada a Odivelas, os Miranda Henriques, uma vez que esta Senhora era casada com Luís Guedes de Miranda Henriques, morgado da Bacalhoa e XI senhor de Murça, da mesma família de José Joaquim de Miranda Henriques, rico proprietário em Odivelas, no século XVIII. São mesmo os dois maiores proprietários – um dono da Quinta da Memória, outro dono da Quinta de Nossa Senhora do Monte do Carmo.

A primeira, andava no posse do Aposentador-Mór, já em 1758, segundo palavras do Cura João Lopes Cardoso, que, nas Memórias Paroquiais a ela se refere nos seguintes termos:

“O Rio desta terra tem a sua origem nas águas do inverno; começa a correr do lugar de Caneças da freguesia de Loures e entrando nesta de Odivelas vai continuando o seu curso pelo sítio da Ramada, passa por uma ponte de cantaria de um só arco, que fica por cima deste lugar onde chamam Vila Ladra, e correndo encostado ao muro da cerca das Religiosas deste lugar, e da Quinta de Sebastião de Vanderton, passa por outra ponte de lajedo…. e daí se vai juntar ao fundo da Quinta do Conde Aposentador – Mor com outro Rio que vem do sítio da Lage freguesia de Benfica…”. Por aqui podemos ter uma ideia da dimensão desta quinta.

No ano de 1763, pertencia a D. Lourenço de Sousa da Silva, 3.º Conde de Santiago e Aposentador – Mor do Reino, casado com D. Josefa de Noronha. Foi esta Condessa que deu ali alojamento ao frade António dos Santos, enquanto duraram as obras de construção do monumento do Senhor Roubado.

Confirmando a posse, no livro de registo das décimas, podemos ler o seguinte:

“ A propriedade do Conde de Santiago consta de Casas Nobres, devolutas, e a quinta que se compõe de pomar de espinho bordado de oliveiras avaliado tudo em quarenta e oito mil e duzentos réis; e terras de semeadura avaliadas em quinze mil e setecentos e cinquenta réis”.

Mas o Conde tinha outras propriedades em Odivelas:

  • um olival arrendado em seis mil réis;
  • uma propriedade que consta de uma terra de semeadura, arrendada em dez mil réis;
  • uma propriedade que consta de um casal, sem casas e se compõe de terras de semeadura, arrendado em géneros;
  • outro casal sem casas, chamado do Vale do Mosteiro, arrendado em géneros;
  • propriedade que consta de casas e quintinha, que se compõem de pomar de pevide, terras de pão e oliveiras, arrendado tudo em trinta e oito mil e quatrocentos réis;
  • propriedade que consta de um casal que tem casas, tudo arrendado em géneros;
  • outro casal que tem casas, arrendado tudo em géneros;
  • uma propriedade que consta de uma terra arrendada em dois mil e quatrocentos réis;
  • uma propriedade que consta de uma terra arrendada a António Marques em mil e quinhentos réis;
  • uma propriedade que consta de uma terra arrendada em o Casal “cito” na freguesia de Loures, avaliado em dois mil e setecentos réis.

Eram importâncias avultadas para a época.

Neste ano de 1763, como fica dito, as Casas Nobres da Quinta estavam devolutas. Na memória dos habitantes de Odivelas não existe recordação dos seus donos, o que denuncia muitos anos de abandono, que, por certo, conduziu às ruínas que nós conhecemos. Mas há muitos espaços vazios no nosso conhecimento sobre esta quinta. O trabalho do investigador não terminou. Não sei se um dia terminará. O que sei é que tem de prosseguir.

Maria Máxima Vaz


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