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MONTRA DE LIVROS NTR "O MÁGICO DE AUSCHWITZ" E "O MANUSCRITO DE BIRKENAU"

Escrito por em Novembro 24, 2020

De JOSÉ RODRIGUES DOS SANTOS. Chancela Gradiva

A vida do Grande Nivelli, o mágico judeu que encanta Praga, muda quando os nazis invadem a Checoslováquia. A Segunda Guerra Mundial começa e ele é deportado com a família. O seu destino é o de milhões de judeus. Auschwitz. O português Francisco Latino sempre foi considerado um bruto na Legião Estrangeira. Mas o seu coração amolece durante o cerco de Leninegrado, onde integra a Divisão Azul espanhola e se apaixona por uma russa. Até que as SS o levam… O mágico judeu e o soldado português unem os seus destinos em Auschwitz-Birkenau. A magia do Grande Nivelli será chamada a desempenhar um papel central num evento largamente desconhecido, mas que se revelou a maior conspiração levada a cabo pelas vítimas contra o Holocausto.

A revolta de Auschwitz.

O Mágico de Auschwitz revela-nos a Shoah como nunca foi mostrada. Baseando-se em acontecimentos verídicos e em personagens reais, José Rodrigues dos Santos transporta-nos ao coração do maior dos campos da morte nazis e revela-nos episódios desconhecidos do Holocausto, incluindo o papel que o misticismo e o esoterismo desempenharam na Solução Final. Uma das mais importantes obras da literatura portuguesa contemporânea.

O MÁGICO DE AUSCHWITZ


Excerto do Capítulo X (parte I)
Um guincho metálico, sinal de que o altifalante acabava de
ser ligado, levou os soldados da Divisão Azul a erguerem as
cabeças das trincheiras e dos bunkers. Não havia quem não
reconhecesse o som, pois já se tornara uma rotina matinal na
frente de Leninegrado.
“Olá!”, soltou Francisco, parando de limpar a sua MP 40
para perscrutar o setor inimigo. “Vêm aí discos a pedido…”
Como em resposta, o ar encheu‑se com uma voz familiar
ao altifalante.
“Buenos dias, españoles”, cumprimentou a voz. “En honor
a la gloriosa batalla de Stalingrado, verdadero cementerio de
alemanes, esta mañana vamos a escuchar la canción preferida
de Stalin.”
De imediato soaram os acordes e ouviu‑se um coro a cantar
Kalinka, evidentemente uma gravação.
Kalinka, kalinka, kalinka moya!
V sadu yagoda malinka, malinka moya!
Hej! Kalinka, kalinka, kalinka moya!
V sadu yagoda malinka, malinka mo…
Irritado, o soldado Morlán abriu fogo de metralhadora e var‑
reu as linhas russas, abafando a canção com rajadas sucessivas.
“Cessar‑fogo!”, gritou o capitão Ulzurrum. “Cessar-fogo!”
Morlán suspendeu o tiro.
“Foste tu outra vez, Morlán?”
“Sí, mi capitán.”
“Coño!, quantas vezes tenho de te dizer que não respondas
a estas provocações?”
“Sí, mi capitán.”
Os homens nas trincheiras sorriram; já conheciam aquela
conversa quase de cor; repetia‑se sempre que o altifalante russo
se punha a debitar.
“Se voltares a desobedecer dou cabo de ti, cabrón!”
“Sí, mi capitán.”
Nada daquilo, nem a música, nem a voz inimiga em espa‑
nhol, nem a altercação entre o capitão Ulzurrum e o soldado
Morlán, constituía novidade para os soldados da Divisão Azul.
Desde que a segunda companhia do batalhão 250 da Reserva
Móvel se instalara na ala esquerda do setor de Krasny Bor, uma
povoação diante de Leninegrado, que os russos não cessavam
as provocações. Os espanhóis, em particular o soldado Morlán,
respondiam a tiro, para desespero dos oficiais, sempre preo‑
cupados com poupar as preciosas balas e não denunciar posi‑
ções. Mas as provocações eram mais fortes do que os nervos de
Morlán, um falangista dos quatro costados que não suportava
a propaganda comunista. O inimigo voltara altifalantes para os
sitiantes e periodicamente apresentava um boletim informativo,
umas vezes em alemão, outras em castelhano. Os russos iam
dando notícias derrotistas sobre o que se passava na retaguarda
alemã e noutros setores da frente, sobretudo em Estalinegrado,
onde a Wehrmacht e o Exército Vermelho estavam nesse
momento enlaçados num abraço de morte.
Em certas ocasiões, contudo, os russos preferiam passar
música em altos berros. Punham canções mexicanas, como Allá
en el rancho grande e Vuela, vuela, palomita, e também folclore
russo. Não se podia negar que a ideia animava as linhas e
conferia um ambiente surreal de fiesta à zona da frente. Nessa
manhã, a escolha dos russos pelos vistos recaíra na Kalinka,
ao som da qual, sentado na trincheira ao lado de Juanito, Fran‑
cisco recomeçou a limpar a MP 40.

O MANUSCRITO DE BIRKENAU


Depois de seguir a mulher SS para o barracão mais próximo,
o português entrou com Tanusha no quarto da Blockälteste e
deu instruções estritas para não ser importunado enquanto interrogava a prisioneira. Fechou a porta e ficou a sós com ela. A rapariga fitava -o a tremer, ainda incrédula e visivelmente desorientada.
Enternecido, Francisco envolveu -a com os braços e estreitou -a a si.
“Tanusha…”
Molhada e enregelada, a russa tremia sem cessar. Por uns
segundos não reagiu, como se não passasse de um objeto inerte;
estava sem resposta, decerto em choque. Um gemido suave assinalou o momento em que pareceu despertar e com os braços
magríssimos devolveu -lhe o abraço.
“És tu?”, sussurrou, a voz fraca e trémula. “És mesmo tu?”
“Shhh!”, soprou -lhe ele, consolando -a. “Pronto, está tudo
bem. Estou aqui. Está tudo bem.”
Ela chorou convulsivamente durante alguns minutos, a testa
mergulhada no ombro enquanto ele a afagava e lhe segredava
palavras de conforto. Cheirava a fezes e urina, mas o português
não a largou. Ao fim de algum tempo, sentindo-se mais calma,
Tanusha apartou -se ligeiramente.
“O que fazes aqui?”
“É uma longa história”, respondeu Francisco. “Mas pode -se
dizer que me alistei nas SS para te salvar.”
A rapariga pestanejou, a esperança a bordejar -lhe nas pálpebras.
“Vais… vais tirar -me daqui?”
Ele engoliu em seco.
“Não é assim tão simples”, respondeu. “Vou tentar, mas
será difícil.”
A deceção dela embaraçou -o. Jurara protegê -la, fizera desse
juramento um propósito de vida, mas falhara e continuava
a falhar.


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