MORREU O JOEL PINA FIGURA MAIOR DO FADO
Escrito por Paulo António Monteiro em Fevereiro 12, 2021
Morreu o professor Joel Pina, foi o guitarrista de Amália durante 29 anos. O Professor Joel Pina, como era tratado porque lia as partituras, morreu esta quinta-feira. Tinha 100 anos, celebrados no ano passado num concerto no Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa. A notícia da morte do músico foi revelada pelo Museu do Fado, na rede social Facebook.
Com cerca de 80 anos de carreira, Joel Pina acompanhou Amália Rodrigues durante quase três décadas. Morreu na quinta feira, em Cascais, onde se encontrava hospitalizado.
Numa das suas entrevistas à agência Lusa, o músico recordou como a equipa francesa do filme “Les Amants du Tage” (“Os Amantes do Tejo”, 1955), de Henri Verneuil, fez questão de contar com a sua participação, acompanhando Amália, que fazia parte do elenco e descreveu como “brincavam” consigo, referindo-se à sua viola baixo como “o frigorífico”.
O músico fez parte do Conjunto de Guitarras de Raul Nery, foi homenageado pela Câmara de Lisboa, pela sua excelência musical e contributo para a música, em Junho de 1999.
Em 1992, o Ministério da Cultura entregou a Joel Pina a Medalha de Mérito Cultural. Em 2005 recebeu o Prémio Amália Rodrigues, distinguindo-o como “o Melhor Viola-Baixo”, e destacando a sua contribuição para o desenvolvimento do instrumento. Em 2012, recebeu a comenda da ordem do Infante D. Henrique.
A lista de fadistas que Pina acompanhou, vai do fado à música ligeira, com nomes como Tony de Matos, Max, Hermínia Silva, Frei Hermano da Câmara, Manuel de Almeida, Fernanda Maria, Fernando Farinha, Manuel Fernandes, Argentina Santos, Ada de Castro, Beatriz da Conceição, Fernando Maurício, Maria da Fé, Tristão da Silva, José Coelho, Margarida Bessa, Julieta Estrela, António Rocha, Ricardo Ribeiro, Lenita Gentil, Carlos Zel, Maria João Quadros, Nuno da Câmara Pereira, João Braga, Nuno Aguiar e Camané, entre muitos outros.
Pina nasceu a 17 de fevereiro de 1920, em Rosaminhal, no concelho de Idanha-a-Nova, distrito de Castelo Branco, onde começou, como autodidata, a tocar bandolim, antes de se iniciar no solfejo.
Aos 12 anos, em 1932, começou o estudo da guitarra portuguesa e da viola.
Na sua terra natal fez parte de vários grupos de animação de bailes.
Em 1938 fixou-se em Lisboa, começando como espectador, a frequentar as casas de fado.
A profissionalização surgiu em 1949, quatro anos depois de casar com Aurora Gonçalves Borges.
O músico Martinho d’Assunção (1914-1992) convidou-o a fazer parte do seu Quarteto Típico de Guitarras, que incluía ainda António Couto e Francisco Carvalhinho. Foi Martinho d’Assunção que o aconselhou a dedicar-se à viola-baixo.
Em 1959, entrou para o Conjunto de Guitarras de Raul Nery, com quem manteve amizade até à morte do guitarrista, em junho de 2012.
Em 1961, Joel Pina entrou na Função Pública, para os quadros da Inspeção das Atividades Económicas, de onde se reformou.
Além de acompanhador, Joel Pina foi também autor de melodias, nomeadamente “Folha Caída”, “Madrugada” e “Tempo Perdido”.
O Museu do Fado, em 2020, organizou uma homenagem ao músico, no Teatro Municipal S. Luiz, em Lisboa, por ocasião do seu centenário, e que contou com a participação de, entre outros, Ana Sofia Varela, Camané, Gonçalo Salgueiro, Joana Amendoeira, João Braga, Jorge Fernando, Katia Guerreiro, Lenita Gentil, Maria da Fé, Mísia, Pedro Moutinho e Rodrigo.
Joel Pina, completaria 101 anos na próxima quarta-feira.
Paulo António Monteiro