“NOS DEDOS AS PALAVRAS” DE ANA P DE MADUREIRA. CHANCELA IN-FINITA.
Escrito por Jorge Gaspar em Fevereiro 26, 2019

estarei sempre
para lá do espaço
no aquém do tempo
porque sou água
em que me espraio
e onde me choro
porque sou fogo
onde me acendo
e em que morro
EU
porque sou vento
em que me fustigo
ou me amacio
porque sou terra
vermelha e fértil
e pântano feita de lodo
porque sou metal
por onde me fundo
e também em que me corto
por isso
percorro-me em rio
nesse escaldar do meu sangue

não te apaixones por mim
A M O R
soletra-me apenas
e caminha-me vendado
que em ti SOU
não te apaixones por mim
A M O R
para que os meus olhos
continuem furna
e as minhas mãos passos
e os meus pés pássaros
sobrevoando-te a humidade da língua
não te apaixones por mim
A M O R
que me quero respiro
no útero das bocas abertas
nas palavras lacradas
pelo silencio saliva
envelope o NOSSO
sem carta que date o tempo
ou rotas que comandem o espaço
feito de um Eterno
para que nos transbordemos
inicio
num sempre
não te apaixones por mim
A M O R
para que a flor se te abra
sempre tenra e ávida
por receber-te semente
