Diz-se que a resiliência é factor crucial para sobressair no universo artístico, mas também o sentido de oportunidade é determinante. Há que aproveitar: a nova edição do — concurso artístico que desvenda novos criadores (residentes em Portugal e com idade igual ou superior a 18 anos) em seis áreas distintas —, está de volta e de.
A edição de 2021 vem com novidades. Às categorias de Música, Escrita, Fotografia, Cinema, Ilustração, junta-se agora a oportunidade para os apaixonados pelo universo do gaming se destacarem. É isso: este ano vão também a concurso os videojogos.
À semelhança das edições anteriores, haverá um vencedor e duas menções honrosas por categoria. Os três elementos seleccionados em cada uma das áreas terão direito a vários prémios (pode consultar na caixa abaixo).
Maria Sécio, vencedora do Novos Talentos FNAC na categoria de Fotografia, com “River Gurara”, em 2020, recorda o instante em que soube que tinha ganho: “No momento em que o meu nome foi anunciado tive a reacção típica de surpresa e êxtase”, conta-nos.
“Surpresa”, “alegria” e “felicidade” foram os sentimentos vividos também por Pedro Castilho, vencedor na categoria de Música com o tema “The Wind Blows”, e João Pedro Soares, vencedor na categoria de Cinema com a curta-metragem “Retrato de um Homem enquanto Ilha”.
“Recordo-o [o momento] com grande surpresa e alegria”, diz João Pedro Soares. “Não esperava de todo vencer. Tinha sido a primeira curta-metragem que alguma vez havia realizado”, revela.
“Aumentou a confiança nas minhas próprias capacidades”
Mas há outros sentimentos além desta felicidade da conquista. Com o reconhecimento do trabalho, é inevitável: numa espécie de catadupa, chegam a confiança, a força e a vontade de fazer mais e melhor. No caso destes três vencedores, de formas distintas, foi isso que aconteceu.
“O prémio deu-me força para acreditar que as minhas ideias, imagens e expressão artística têm mérito para existir, não só para mim mas também para o observador”, conta Maria Sécio.
“Senti-me naturalmente mais motivada para continuar o meu desenvolvimento como artista e fui convidada para expor o projecto a solo em dois espaços: o primeiro na Mina Gallery ̧ em Amesterdão, e de momento, ainda a decorrer até 18 de Abril, no Auditório Augusto Cabrita, no Barreiro”, acrescenta, salientando ainda a importância da formação e acompanhamento do Instituto Português de Fotografia, um dos prémios do Novos Talentos FNAC.
Pedro Castilho também viveu um ano positivo, apesar das circunstâncias impostas pela COVID-19, particularmente duras para o sector da cultura. “Este prémio, para além da visibilidade que me deu, permitiu-me tocar pela primeira vez no Coliseu dos Recreios, no FNAC Live, o que me deu bastante motivação num momento em que estava tudo meio estagnado”, conta, numa alusão ao evento que decorreu a 1 de Outubro de 2020 nesta sala de espectáculos e que, entre vários, contou ainda com as actuações de Clã, David Fonseca, Lena d’Água.
O músico tem estado a trabalhar num novo álbum, cuja mistura e masterização são, tal como o concerto FNAC Live, parte do prémio do concurso Novos Talentos FNAC. Mas há mais: o confinamento também deu frutos, resultando mais concretamente numa colaboração com o amigo e músico o Príncipe do Lumiar. “Verá a luz do dia muito brevemente”, promete.
Depois de vencer na categoria de Cinema, além dos prémios do concurso, João Pedro Soares também ganhou certezas: “[o prémio] Validou e confirmou a aposta que tinha feito em prosseguir estudos na área do cinema.”
É que hoje, e tal como Maria Sécio, acredita mais em si. “Aumentou a confiança nas minhas próprias capacidades, no trabalho criativo que tento fazer e deu-me alento para a realização de projectos futuros.”
“Concursos como os Novos Talentos FNAC permitem dar visibilidade a artistas emergentes”
Apesar de estar envolvido em vários projectos enquanto assistente de realização, João Pedro Soares guarda algum espaço para si e está actualmente a produzir a curta-metragem “A incessante Conquista da Escuridão”. “Espero que esteja no circuito de festivais ainda este ano.”
Para o cineasta, o Novos Talentos FNAC é um evento “importante e necessário”, não fosse uma porta de entrada acessível para aqueles que, ainda sem um nome sonante para usar, querem criar e fazer o seu percurso.
“No sector artístico do cinema existem inúmeros festivais, de maior ou menor dimensão, mas por vezes é um universo de difícil acesso”, diz. “Concursos como os Novos Talentos FNAC permitem dar visibilidade a artistas emergentes, independentes e até desconhecidos, que estão a dar os primeiros passos na área ou que tencionam expor o seu trabalho perante uma maior audiência. Este evento é importante e necessário.”
Para Maria Sécio, o concurso tem ainda um papel crucial na visibilidade de quem tem “um método e percurso independente”. Além disso, é um evento que dá estrutura: “Estas oportunidades também incentivam a organização individual, pois a ideia de haver datas para cumprir ajudam com que os projectos ganhem forma e se concluam. Método de trabalho é algo muito importante, especialmente para alguém que, como eu, se vê maioritariamente a trabalhar a solo.”
“Os artistas são vozes fundamentais no período instável que vivemos”
As salas de espectáculo, os cinemas e as galerias ora abrem, ora fecham. Mas a criatividade não depende senão de cada um de nós. Por palavras diferentes, a mensagem dos três vencedores da edição passada do Novos Talentos FNAC para os novos concorrentes é esta: não desistam. “Continuem a fazer música e a acreditar nela, pois a oportunidade pode estar à espreita”, diz Pedro Castilho.
É que arte é esperança, diz João Pedro Soares: “Perante a dificuldade dos tempos, a arte surge enquanto reduto de esperança e luminosidade”. Por isso, acrescenta, por mais difícil que se avizinhe o futuro, é importante lembrar o que representam os artistas: “Vozes fundamentais no período instável que vivemos”.
Até porque, como diz Maria Sécio, “enquanto os concursos não forem cancelados, não há razão para as pessoas pararem de se candidatar.”
A fotógrafa termina deixando alguns conselhos sobre aquilo que considera mais importante na produção artística: “O que é importante é a honestidade do trabalho e o afinco para o mostrar ao mundo. Quando um trabalho é honesto, essa vertente transpõe-se para o observador e leva-o a reflectir com base nas suas próprias experiências.”
As candidaturas para a edição de 2021 do FNAC Novos Talentos estão abertas até 30 de Abril e devem ser feitas online. Os vencedores serão apresentados na entrega de prémios, que terá lugar em Junho, em local ainda a anunciar.