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OBRA-PRIMA DE "JOSEFA DE ÓBIDOS" NO MUSEU NACIONAL ARTE ANTIGA

Escrito por em Setembro 6, 2019

Intitulada “A Leitura da Sina do Menino Jesus”, pintura criada por Josefa de Ayalla, conhecida por Josefa de Óbidos, é considerada, pelos especialistas, “obra-prima pela qualidade e iconografia rara”.

Uma obra-prima da pintora Josefa de Óbidos datada de 1667, vendida em junho num leilão, na Alemanha, vai ser exibida a partir de desta sexta-feira, no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa.

Intitulada “A Leitura da Sina do Menino Jesus”, a pintura criada por Josefa de Ayalla, conhecida por Josefa de Óbidos, é considerada, pelos especialistas, “uma obra-prima pela qualidade e iconografia rara”.

“É uma peça extraordinária, com um tema muito raro”, avaliou Joaquim Caetano, diretor do MNAA, contactado pela agência Lusa sobre a vinda da pequena pintura para ficar um mês, em exibição, no museu, cujo nome do comprador foi agora revelado.

O especialista em História da Arte revelou que a peça foi adquirida pelo colecionador e galerista argentino Jaime Eguiguren, a quem o diretor pediu para que a cedesse ao museu português, possuidor do maior acervo de obras de Josefa de Óbidos – 15 no total.

“Fomos contactados pelo colecionador, dizendo que tinha a peça, e que queria obter uma opinião do museu. Na altura, na troca de e-mails, eu disse que gostávamos mesmo de a expor no MNAA”, recordou à Lusa o diretor do museu, mostrando-se surpreendido por Jaime Eguiguren ter aceitado de imediato a cedência para Lisboa.

A vinda a Portugal da pintura devocional de pequenas dimensões – totalmente desconhecida dos especialistas – surge num contexto particular, que tem a ver com a previsão da permanência da peça na Alemanha, de onde só partiria para os Estados Unidos dentro de um mês.

“Nestas circunstâncias, o colecionador acedeu a que a obra ficasse em Lisboa para exibição durante esse período”, avançou Joaquim Caetano, que já organizou duas sessões para falar sobre esta pintura, uma esta sexta-feira, às 18h, dia da inauguração, e outra no dia 3 de outubro, à mesma hora.

A obra foi vendida em junho por 220 mil euros num leilão em Bona, na Alemanha, e, na altura, o Estado português, através da Direção-Geral do Património Cultural, tentou comprá-la para o MNAA, mas sem êxito, porque o valor ultrapassou a disponibilidade financeira para o quadro.

A pintura, vendida através da leiloeira Plückbaum, com uma base de licitação de 25 mil euros, tem uma dimensão de 23 por 29 centímetros, e foi feita sobre placa de cobre, mostrando a Virgem Maria com o Menino Jesus ao colo a ser saudado por outras mulheres com crianças, enquanto uma cigana lhe pega na mão para ler a sina.

A cena decorre durante a estada da família de Jesus no Egito, e a associação entre este país e o povo cigano foi usual na época, em coletâneas de gravuras e nas pinturas em Portugal e em Espanha.

Joaquim Oliveira Caetano disse à Lusa que a peça foi muito disputada no leilão, onde se encontravam colecionadores portugueses e estrangeiros, bem como museus interessados, que chegaram a licitar, mas viria a ser comprada por Jaime Eguiguren, que possui várias galerias de arte, nomeadamente na Europa e nos Estados Unidos.

A pintura terá sido comprada já fora de Portugal, nos anos de 1980, mas só foi conhecida quando surgiu no leilão, na Alemanha, recordou o historiador de arte, que foi conservador da coleção de pintura do MNAA e um dos comissários da mais recente e grande mostra do MNAA dedicada à artista, “Josefa de Óbidos e a Invenção do Barroco Português” (2015).

Para o historiador de arte, é muito possível que venham a surgir, no mercado, outras obras desconhecidas de Josefa, “sobretudo porque, atualmente, com as questões de género em foco, o facto de se tratar de uma mulher artista de grande talento, do período barroco, a sua obra está a ser mais valorizada”.

Josefa de Óbidos nasceu em Sevilha, em 1630, e morreu em Óbidos, em 1684. Aprendeu o ofício com o pai, Baltazar Gomes Figueira, com quem trabalhou na sua oficina, e recebeu educação religiosa no Convento de Santa Ana, em Coimbra, entre 1644 e 1646, passando a residir em Óbidos a partir desse ano.

A pintora está representada no Museu do Louvre, em Paris, com o quadro “Maria Madalena”, também conhecido por “A Penitente Madalena Consolada Por Anjos”, comprada num leilão em Nova Iorque pelo galerista de arte lusodescendente Philippe Mendes, por 236 mil euros, e doada ao museu, onde fora curador.

Também o Museu da Misericórdia do Porto tem um quadro de Josefa de Óbidos, “A Sagrada Família com São João Batista, Santa Isabel e Anjos”, igualmente adquirido num leilão em Nova Iorque, por 228 mil euros.

Dos quadros-chave na obra da pintora, destacam-se ainda “Maria Madalena” e “Lactação de S. Bernardo”, na coleção do Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra, “Cordeiro Místico”, no Paço dos Duques de Bragança, em Guimarães, e “Cordeiro Pascal”, no Museu Nacional Frei Bartolomeu do Cenáculo, em Évora, que detém igualmente algumas naturezas mortas da pintora, assim como as peças “Transverberação de Santa Teresa” e “Sagrada Família” e “Calvário”.

O Museu de Arte Walters, de Baltimore, nos Estados Unidos, tem no seu acervo e em exposição permanente o “Cordeiro Sacrificial”, pintura adquirida em Roma, no início do século XX, pelo fundador da instituição, Henry Walters.

Em 1991, a Galeria D. Luís, no Palácio Nacional da Ajuda, acolhera a mostra “Josefa de Óbidos e o Tempo Barroco” e, em 1997, o National Museum of Women in the Arts, em Washington D.C., nos Estados Unidos, dedicou à artista a exposição “Sagrado e Profano: Josefa de Óbidos de Portugal”.

A primeira exposição conhecida com obras de Josefa de Óbidos remonta ao final da década de 1940, no MNAA, com a reunião de pinturas do seu acervo.

(via: ardinanews)


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