OS ABRAÇOS NA POLÍTICA
Escrito por Jorge Gaspar em Março 18, 2021
MÁRIO MÁXIMO
Está quase a reabrir a estação dos abraços. Sempre que eleições se aproximam (e em
Portugal vêm aí as autárquicas) é esse, aliás, o triste fado. Tenho alguma coisa contra
os abraços? Não, nada contra, pelo contrário. O problema é que o abraço genuíno
deve ser um abraço fraterno. E fraternidade sincera é coisa que se encontra pouco.
Nesse aspeto os tempos de hoje não são diferentes dos tempos de sempre…
Os abraços em política são, quase sempre, repletos da falsidade que esconde a intriga
e a perfídia. Começa tal saga, nas eleições dentro dos próprios partidos. Os abraços
dentro dos partidos são ainda mais falsos. Pois que entre adversários na refrega
democrática ainda se pode dizer que a falsidade no abraço é uma espécie de estratégia
de maquiavéis fora de tempo. Agora dentro do próprio partido não! Dentro do próprio
partido vale mesmo tudo e a estratégia do abraço é uma forma de os abraçantes
demonstrarem quem querem afastar. E há quem faça carreira de abraço em abraço.
Há mesmo especialistas nesta tecnologia do abraço.
Há também os que se habituam a conspirar nos corredores. E conspirar nos corredores
é um vício. Quando decorre uma reunião partidária poucos são os que se importam
com o que está na ordem de trabalhos para, supostamente, ser discutido. É nos
corredores que a política se faz. Nos corredores é que é! E de tal forma é assim, que
até nos corredores se dão abraços de eterna fraternidade que, claro está, irá durar até
um dos abraçantes perceber que foi tolo e enganado.
A pandemia do novo coronavírus, para além das dramáticas consequências na saúde,
na economia e na vida em sociedade, veio trazer uma novidade: os abraços
fisicamente expressos estarão proibidos até porque podem ter como consequência o
contágio, primeiro e, sabe-se lá, a morte depois.
Não haverá, deste modo, abraços físicos para mostrar, em fotos para o Facebook, o
quanto cada suposto protagonista é mesmo fraterno e amigão. Mas mesmo sem
abraços vai haver muitas juras de ‘amor político’, juras tão eternas que durarão apenas
o instante da ilusão. Com ou sem abraços vai continuar a ser assim…
TWEETS COM CORAÇÃO
By MÁRIO MÁXIMO