OS ESQUELETOS NOS ARMÁRIOS DA HISTÓRIA
Escrito por Jorge Gaspar em Abril 7, 2021
Vivemos um tempo de refluxo da História.
Surgiram protagonistas ou, pelo menos,
candidatos a tal, cuja missão é a de abrirem os cadeados dos armários da História e de
lá retirarem os esqueletos que envergonharam a Humanidade.
São gente que não tem imaginação. Gente que não sabe pensar novo. Gente cuja
modernidade é serem antigos. Gente que é ‘contra o sistema’.
Têm, também, uma caraterística muito peculiar: apagam nos esqueletos qualquer sinal
das coisas tenebrosas que foram perpetradas.
Têm um produto especial, lá isso é verdade. É um produto que puxa o lustro, muito
bem puxado, aos referidos esqueletos. Conseguem transformar, por exemplo, um
tirano como Salazar, num homem sério e honesto e que não teve responsabilidade
alguma nas prisões arbitrárias a que durante quarenta e oito anos foram sujeitos
milhares de cidadãos portugueses, mulheres e homens cujo crime conhecido era o de
exigirem liberdade. Prisões arbitrárias que tinham ‘brinde’: sevícias e torturas, físicas e
psicológicas, com requintes de malvadez.
Conseguem encontrar, por exemplo, muitas virtudes em personagens como Benito
Mussolini que alguns italianos querem polir para colocarem de novo na montra; ou no
ditador espanhol Franco, que também creio que deve ter sido um bom samaritano e
um homem devoto e de Deus, que deverá ter rezado muito pela alma daqueles e
daquelas que mandou diretamente para ao anjinhos. Os apoiantes do VOX têm Franco
como seu guru.
Há outros protagonistas que, em matéria de esqueletos no armário da história,
também gostam de cumprir a sua missão. Mas esses têm uma vantagem: nem sequer
precisam do tal produto especial para polir esqueletos. Apresentam-nos e defendem-
nos tal como foram e com todos os crimes que cometeram: a tropa fandanga dos
neonazis mais ou menos encapotados que por aí andam a esticar o braço e a mãozita
direita em demonstração de grande coragem. Coragem que também demonstram
quando, em matilha, escolhem um migrante, de preferência negro, e desatam a
agredi-lo até sabe-se lá onde.
Recentemente, na América, reapareceram os supremacistas brancos. Mas quanto a
esses, a missão principal, para além da violência que defendem e praticam, é a de
manterem bem lavadas as vestes imaculadas do Ku-Klux-Klan. É que também ficam
muito bem na montra de aberrações.
TWEETS COM CORAÇÃO
By MÁRIO MÁXIMO