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“PARA O FIM DO TEMPO”

Escrito por em Março 13, 2021

Olivier Messiaen em 1937 | Fonte: Wikimedia Commons

Para o Fim do Tempo

«Naquela noite fria de janeiro de 1941, amontoados nos bancos do barracão N.º 27, ouvimos – alguns levados por um entusiasmo inesperado, outros como que incomodados por ritmos e sons a que não estavam habituados – o nascimento daquilo que Messiaen desejava que fosse “um grande ato de fé”.» Foi assim que, anos mais tarde, um dos prisioneiros do campo de concentração nazi Stalag XIIIA recordou a primeira vez em que o Quarteto para o Fim do Tempo foi tocado. Olivier Messiaen afirmou no final da vida que nunca a sua música foi escutada tão atentamente como naquele dia.

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É difícil imaginar um campo de concentração onde ocorriam concertos e até havia um piano disponível, ainda que desafinado. Diante dos quatro músicos, estariam presentes elementos de todas as hierarquias do corpo militar alemão e centenas de prisioneiros. Antes de dar início ao concerto, o compositor fez questão de esclarecer que havia escrito aquela obra «para o fim do tempo», mas que isso não era uma alusão à situação em que todos ali se encontravam. Em vez disso, era uma evocação do fim dos conceitos de Passado e de Futuro, o início da eternidade. Para tal, inspirou-se no décimo capítulo do livro do Apocalipse de São João, o derradeiro livro da bíblia, onde se lêem estas palavras: «Eu vi um anjo pleno de força, descendo do céu, revestido de uma nuvem, tendo sobre a cabeça um arco-íris. O seu rosto era como o sol, seus pés como colunas de fogo. Pousou o seu pé direito sobre o mar e o seu pé esquerdo sobre a terra, e, mantendo-se sobre o mar e sobre a terra, elevou a mão para o Céu e jurou por Aquele que vive pelos séculos dos séculos, dizendo: não haverá mais Tempo: mas no dia da trombeta do sétimo anjo, o mistério de Deus se consumará.»

Assim nasceu o Quarteto para o Fim do Tempo. Em junho de 1940, a França tinha-se rendido ao poderio das tropas alemãs. O músico foi capturado depois de se ausentar de Paris e enviado para o campo de concentração de Görlitz, na Baixa Silésia, para junto de milhares de prisioneiros de diferentes proveniências e nacionalidades, mas sobretudo prisioneiros de guerra franceses. Apesar de todas as privações, os músicos beneficiavam aí de uma condição relativamente privilegiada. Por isso, foi-lhe possível guardar as partituras que trouxera consigo e, sobretudo, continuar a compor. Conheceu então um clarinetista, um violinista e um violoncelista amadores, para quem compôs a primeira versão da obra. Juntou depois as partes com piano. Passados seis meses, quando foi libertado, trazia consigo esse manuscrito que se tornou célebre, quer pelas condições em que foi produzido quer pela própria qualidade musical.

O quarteto distingue-se pela irregularidade rítmica e divide-se em oito partes. As primeiras sete correspondem aos sete dias da criação. Segundo o compositor, «sete é o número perfeito, a criação de seis dias santificada pelo sabbat divino; o sete deste repouso prolonga-se na eternidade e torna-se o oito da luz indefectível, da inalterável paz». Curiosamente, o quatro instrumentos só se ouvem em conjunto nas partes 1, 2, 6 e 7 – por exemplo, o terceiro, «Abismo dos pássaros», é um solo de clarinete. Tudo termina com um hino à imortalidade, manifestação de esperança e de fé, uma homenagem ao Anjo do Apocalipse.


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