40 ANOS DE VIDA LITERÁRIA.
Quando se estreou com O Silêncio, aos 41 anos, Teolinda Gersão recebeu o prémio do P.E.N. Clube, o primeiro dos muitos que incluem, já mais recentemente, o prémio Vergílio Ferreira, atribuído em 2017 pelo conjunto da obra. À época, o júri realçou a «alta qualidade da arte narrativa expressa nos vários géneros de ficção clássica, em particular o romance e o conto».
Mas a amor pela escrita, como conta em diversas entrevistas, começou cedo, com um primeiro livro autopublicado aos 14 anos, uma vontade que os pais lhe fizeram, nas palavras da autora. Até se dedicar por completo à escrita, Teolinda aprendeu música (uma paixão de infância que está por detrás da sua novela “Os Teclados”), viveu na Alemanha, nos Estados Unidos, em Paris, conheceu Moçambique, foi durante muitos anos professora universitária (ensinou Literatura Comparada e Literatura Alemã), tendo cultivado uma vida rica em lugares e experiências que se reflete na sua obra.
Nos seus livros abundam aquilo a que o ensaísta João Barrento chamou «epifanias profanas que se abrem a partir da experiência quotidiana transfigurada». Quer esteja a escrever sobre África, sobre o país agrilhoado pelo Estado Novo ou sobre as personagens comuns do dia a dia – as vizinhas, os velhos, o homem de negócios – convivem sempre na obra da autora realismo e sonho, memória e uma crítica perspicaz do presente.