UM AEROPORTO NA LUA
Escrito por Jorge Gaspar em Março 3, 2021
MÁRIO MÁXIMO
Talvez nem tenham passado dois anos sobre a publicação de uma crónica de minha
autoria cujo título é “Um Aeroporto na Lua”.
Pois acontece que hoje volto à carga. Na altura, tinha acabado de ser decidido pelo
governo de Portugal que o novo aeroporto iria ser no Montijo. Havia uns problemas
relativamente a eventuais pareceres das autarquias da margem sul que, mais
diretamente afetadas (digamos assim), poderiam querer evitar tal obra. Nada que
não se resolvesse.
Nesse artigo por mim citado (e daí o seu título) já eu colocava em causa que a
realidade trouxesse mesmo um novo aeroporto. Portugal é esse país extraordinário
que consegue ter uma classe dirigente que pouco dirige e cuja visão estratégica de
longo curso é de… curto alcance.
Há mais de cinquenta anos que Portugal pretende um novo aeroporto. Já foi
projetado em diversas localizações, mas o facto é que o velho aeroporto de Lisboa é
o que verdadeiramente funciona e vai aguentando o tráfego que ia sempre em
crescendo, devido ao turismo e ao excesso de viagens de negócios. Com efeito, os
tempos da covid 19 demonstram que a maior parte das reuniões internacionais
muito importantes e decisivas podiam ser realizadas através de conferências digitais.
Os executivos cheios de frenéticos maneirismos viajantes ficaram, aliás, rapidamente
fora de moda…
Mas voltemos ao aeroporto. Com o sinistro advento da covid 19, logo surgiram boas
cabeças a afirmar que seria melhor repensar o aeroporto no Montijo. Porque o
tráfego diminuiu de tal modo que o aeroporto da Portela será demasiado grande de
espaço e a TAP até se prepara para fazer um saldo de seus aviões…
Para ajudar à festa veio agora uma entidade, do alto do seu excelentíssimo e douto
papel de cidadania, dizer que nem vai avaliar o projeto do novo aeroporto pois não
há pareceres positivos das tais autarquias da margem sul. Ou seja, em mau
português: tudo em ‘águas de bacalhau’!
Vamos voltar a discutir a coisa. Lá virá a Ota e mais Alcochete. Lá teremos gente
muito iluminada a aventar novas localizações e lá vão aparecer estudos e estudos
pagos a peso de ouro para depois tudo ir para a gaveta… do sótão dos projetos
perdidos.
Enquanto não houver um consenso nacional à volta da localização do novo
aeroporto não haverá novo aeroporto. E se já passaram cinquenta anos, outros
cinquenta se anunciam. É por isto que Portugal nunca consegue cortar com a sua
mediocridade. Mediocridade das classes dirigentes e das classes que se opõem às
classes dirigentes. Não é por sermos um retângulo de oitenta e nove mil metros
quadrados que somos pequenos, somos pequenos porque outros países mais
pequenos em tamanho são muito maiores em visão estratégica e capacidade de
decisão.
Não é por acaso que países como o Luxemburgo, a Suíça, os Países Baixos ou a
Bélgica (e outros poderia citar) têm índices de desenvolvimento claramente
superiores aos nossos. É apenas por que somos assim…
Entretanto, a covid 19 há de passar e o turismo há de voltar. E a localização do novo
aeroporto continuará a ser o segredo melhor guardado. Vai ser em lado nenhum. Ou
então, como somos gente de milagres, talvez venhamos a ser o primeiro país a ter
um aeroporto na Lua… para não falar de Marte.
Com franqueza! O ridículo mata!
TWEETS COM CORAÇÃO
By MÁRIO MÁXIMO