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"UMA BONDADE PERFEITA" ERNESTO RODRIGUES. CHANCELA GRADIVA

Escrito por em Maio 10, 2020

LIVRO DO DIA NTR


Tendo como pano de fundo o drama dos refugiados, “Uma Bondade Perfeita” narra os desatinos de um psicopata e mostra que quem nos salva é, não o altruísmo mecânico de uma qualquer mãe biológica, mas Ágata (bondosa, em grego), a qual, erguida entre as maiores violências, persegue o bem supremo da paz de consciência, culminando neste Séneca: «Sabes o que eu chamo ser bom: ser de uma bondade perfeita, absoluta, tal que nenhuma violência ou imposição nos possa forçar a ser maus.» A humanidade não se salva se o mal nos torna maus, pois seremos iguais a quem, assim, nos venceu. É isso a escalada da guerra, não raro alimentada pelos media. Ser defensivo é outra coisa, e, desde logo, obviar à iniquidade, que conduz à servidão, nem que a única saída, sempre em aberto, seja uma morte digna.

“UMA BONDADE PERFEITA” ERNESTO RODRIGUES

No dia em que foi mãe, 1 de Março de 1990, Ágata jura dar a vida pela filha, Indira. Tem 18 anos. Quatro anos antes, no Verão, voluntariou-se para um infantário, no estrangeiro. Irma, a irmã, recomendou-a a uma senhora do bairro, Alcina, que dirigia uma organização não-governamental num país longínquo. Foi encontrar o filho da benfeitora, que nascera em 1984: Clemente tinha dois anos. Durante uma semana, não o arrancou do mutismo. Dividida entre dezenas de meninos, que a guerra fechara nos arrabaldes da capital, não houve tempo, quando invadiram o recreio. Não viu quem o raptava; encontrou-se sob um mascarado, que a violou. Menigno, o bruto, forçou-a repetidamente; nos intervalos, alimentavam-na bem, perguntando-lhe, em língua retorcida, se sabia o paradeiro de Alcina, a mãe do menino. Ela acariciava uma medalha pobre no seio. Engravidou, mas não viu a filha que nascia: Indira. Clemente, agora um carrasco de 26 anos, tem por tarefa executar a mãe, Alcina. Recorre a Filodemo, um frade cujo passado de jornalista ilumina existência crua e vingativa de Menigno, ex-marido e director da prisão. Num universo turvo, desequilibrado, com sujeitos em perda de identidade, o sexto romance de Ernesto Rodrigues magnifica «uma bondade perfeita, absoluta, tal que nenhuma violência ou imposição nos possa forçar a ser maus». Este é um livro que conduz o leitor por uma intrincada teia de encontros e desencontros, sendo atravessado por uma escrita cuidada, que garante prazer de leitura. Pouco deve ser tido como garantido na narrativa, pois ali se semeia surpresa, se tece intriga, se avança com a certeza de que as personagens vão crescendo ao longo das páginas, ganhando espessura e interesse. E no meio de ódios, morte e maldade, espreita a bondade.

ERNESTO José RODRIGUES, (Torre de Dona Chama, 17-VI-1956) poeta, ficcionista, dramaturgo, cronista, diarista, crítico, ensaísta e tradutor.Licenciado em Filologia Românica (1980) e Mestre em Literatura Portuguesa Clássica (1991), doutorou-se em Letras, na especialidade de Cultura Portuguesa (1996), e fez a agregação em Estudos de Literatura e Cultura, na especialidade de Estudos Portugueses (2011), sempre na Universidade de Lisboa, em cuja Faculdade de Letras é professor auxiliar. Aqui, organizou colóquios, jornadas, conferências, tertúlias, debates; entre outros cargos, foi director-adjunto (2013-2015) e director do CLEPUL ‒ Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Universidade de Lisboa.  Docente do ensino secundário (1978-1979, 1980-1981), jornalista profissional (1979-1981) após longa experiência na Imprensa regional (desde 1970), leitor de Português na Universidade de Budapeste (1981-1986), assistente na Escola Superior de Educação de Bragança (1986-1988), docente no Instituto Piaget (Macedo de Cavaleiros, 1997), docente e coordenador do curso de Comunicação e Design no Instituto Superior de Línguas e Administração – Bragança (1998-1999), ministrou cursos e proferiu conferências em Portugal, Brasil, Cabo Verde, França, Hungria, Itália, Marrocos, Moçambique, República Checa, Roménia. Tem orientado e arguido dezenas de dissertações, teses e pós-doutoramentos. Membro do Conselho Científico da Faculdade de Letras de Lisboa (2015-2017), é membro externo do Conselho Geral do Instituto Politécnico de Bragança desde 1-VII-2015. Perfeitos 40 anos de vida literária, foi homenageado com um documentário realizado por Leonel Brito e sessões no Centro Cultural Municipal de Bragança (2014) e em Torre de Dona Chama, além de votos de louvor aqui e na Assembleia Municipal de Mirandela.Estreando-se em livro em 1973, está traduzido em castelhano, checo, francês, húngaro, inglês, italiano, romeno. Revisor de traduções do francês e inglês, é o principal tradutor para língua portuguesa de autores húngaros (incluindo lírica quatrocentista vertida do latim), desde 1982 – com relevo para Antologia da Poesia Húngara (Lisboa, Âncora Editora, 2002) –, e estudioso das relações entre os dois países. Por tão profícua actividade, foi agraciado pelo Estado húngaro (1983, 1989) e, primeiro tradutor estrangeiro, pela Ordem dos Cavaleiros de São Jorge (Szent György Lovagrend, 2002). Os seus trabalhos sobre o século XIX tiveram menção honrosa do Grémio Literário (Lisboa, 2008; cf. José-Augusto França, Memórias para Após 2000, Lisboa, Livros Horizonte, 2013, p. 87). Afora outros prémios nacionais (Secretariado para a Juventude, 1972; Sport Lisboa e Benfica, 1973) e regionais, venceu a 1.ª edição do Prémio Brigantia – Literatura (1996) e o Prémio PEN Clube – Narrativa (2017), com o romance Uma Bondade Perfeita. Tem a Comenda Municipal Álvaro de Souza, Bragança, Pará (2012).

Principais obras: Várias Bulhas e Algumas Vítimas, novela, 1980; A Flor e a Morte, contos e novelas, 1983; Sobre o Danúbio, poesia, 1985; A Serpente de Bronze, romance, 1989; Torre de Dona Chama, romance, 1994; Histórias para Acordar, contos para a infância, 1996; Sobre o Danúbio / A Duna Partján, poesia e ficção, 1996; Pátria Breve, miscelânea, 2001; Antologia da Poesia Húngara, 2002. Na crítica e ensaio, seleccionamos: Mágico Folhetim. Literatura e Jornalismo em Portugal, 1998; Cultura Literária Oitocentista, 1999; Verso e Prosa de Novecentos, 2000; Visão dos Tempos. Os Óculos na Cultura Portuguesa, 2000; Crónica Jornalística. Século XIX, 2004; «O Século» de Lopes de Mendonça. O Primeiro Jornal Socialista, 2008; A Corte Luso-Brasileira no Jornalismo Português (1807-1821), 2008; 5 de Outubro ­- Uma Reconstituição, 2010. Responsável pelos 3 volumes de Actualização (Literatura Portuguesa e Estilística Literária) do Dicionário de Literatura dirigido por Jacinto do Prado Coelho (2002-2003), editou, entre outros, Padre António Vieira, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Júlio Dinis, Ramalho Ortigão, Trindade Coelho, José Marmelo e Silva, António José Saraiva.


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