Uma série de contrastes que acompanha a transição dos loucos anos 20 para a ditadura em Portugal. É assim que João Lacerda Matos (“O Clube”), que assina o argumento da produção, descreve “Vento Norte”.
Baseado em factos históricos, os dez episódios da série põem Braga, e a família Mello, no centro da ação. A transição que se sente no País à medida que caminha para o obscurantismo do Estado Novo é, também ela, refletida nas personagens principais.
“No arranque da série, o patriarca da família, Afonso Mello [interpretado por Almeno Gonçalves ] vive uma fase de grande dúvida”, começa por dizer o argumentista à MAGG. Além das decisões difíceis e, por vezes, “ingénuas”, que tem de tomar, vê-se a braços com a chegada do filho, gravemente ferido após a sua participação na Primeira Guerra Mundial.
“Tomaz [o filho ferido interpretado por Sisley Dias] serve como metáfora de um País que, marcado pela guerra, vive sem esperança”, mas que aos poucos se vai tentando reerguer. Por oposição, temos Ricardo, interpretado por Rodrigo Tomaz, que “é um miúdo que só quer jogar à bola”.
“Ele e os amigos servem como uma homenagem à fundação do Sporting Clube de Braga”, que seria fundado em 1921. “Vento Norte” é, por isso, uma série que mistura “cultura, desporto, História, política e costumes” — até porque se passa em Braga, que nem sempre é retratada na ficção, embora tenha sido aí que “tiveram lugar alguns dos grandes debates acerca do que se estava a passar em Lisboa”.
Da liberdade dos loucos anos 20 ao obscurantismo da ditadura em Portugal.
“Tal como o sul não é apenas Lisboa, o norte não é apenas o Porto. Foi, aliás, na região norte do País que se deu a nossa revolução industrial e que sempre se manteve muito resistente à República”. Por isso, continua Lacerda Matos, há uma ideia de contraste muito forte na história que será transportada para o ecrã.
Não só através da oposição entre a liberdade e o frenetismo dos loucos anos 20, mas entre o religioso e o profano que é encarnado por Mariana, a personagem de Joana de Verona. “De dia, Mariana passa o tempo com as freiras a cortar hóstias que, mais tarde, serão distribuídas pelos fieis. À noite, trabalha como prostituta no bordel da cidade.”
Este contraste verosímil, diz o argumentista, foi pensado desde o início para dar corpo aos momentos “que ninguém conta da nossa História”, ou seja, “como é que Portugal viveu os loucos anos 20 até, pelo menos, 1926”.
A primeira temporada de “Vento Norte”, composta por dez episódios, arranca com a chegada a Portugal daqueles que estiveram nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial até 1926.
Ainda que o primeiro episódio só tenha estreia marcada para as 21 horas desta quarta-feira, João Lacerda Matos diz que, “se o público gostar, há ideias, e expectativas”, para dar continuidade aos dilemas da família Mello.
Realizada por João Cayatte, “Vento Norte” conta com um elenco composto por nomes como Iris Cayatte , António Melo, Ana Zanatti, Rodrigo Tomás, Natália Luísa e Patrícia Pinheiro.
Personagens
Afonso Mello (Almeno Gonçalves)
Isabel Mello (Natalia Luzia)
Nasceu em Lisboa e foi na capital que conheceu Afonso. Uma mulher moderna ligada às correntes artísticas lisboetas, uma liberal por oposição ao seu marido, extremamente conservador. Isabel nunca se sentiu em casa em Braga. O excesso de religião, de padres e de missas oprime–a e quase nunca deixa o Solar dos Biscainhos para vir à cidade. É o grande apoio dos filhos Tomaz, Ricardo e Margarida. Uma mulher já com uma visão de futuro sobre os direitos das mulheres.
Tomaz Mello (SisleyDias)
Tem 28 anos e é o filho mais velho de Afonso e Isabel. Partiu para a I Guerra contra a vontade do pai. Voltou gaseado, um farrapo. O seu regresso é um momento marcante para a família Mello, em especial para o seu pai, Afonso, que vê o herdeiro da fortuna e das propriedades como um homem destruído. Tem uma grande paixão pela empregada Joana.
Ricardo Mello (Rodrigo Tomaz)
É o filho mais novo de Afonso e Isabel. Nunca gostou de estudar. Escapou à guerra e tem uma postura completamente diferente dos irmãos. Conservador e com uma forte ligação à igreja. Tem uma grande paixão pelo futebol. O pai detesta que ele se dedique a um “desporto de brutos” e proíbe-o de jogar. Mas para Ricardo, o futebol é uma forma de estar com os amigos e de estar longe do pai. Tem uma relação muito mais próxima com os empregados do que com os pais.
Margarida Mello (Patrícia Pinheiro)
É a filha do meio de Afonso e Isabel. Nunca gostou de Braga e assim que pôde foi para Lisboa. Vive na Lapa, em casa da avó materna, que deveria tomar conta dela e garantir a sua educação dentro dos padrões clássicos e religiosos de uma família do Norte. Mas Margarida é uma rebelde e fica imersa na cultura urbana de uma Lisboa a despertar da Revolução Republicana e cheia de vida. Tem uma grande paixão pelo cinema e tem um vício que vai trazer consequências na sua vida. Com o regresso do irmão e a sua incapacidade física para dar continuidade ao nome da família éc hamada a Braga.
D. Teresa (Ana Zanatti)
Provém de uma família aristocrática lisboeta. É mãe de Isabel. Determinada e austera, encara a República como o pior dos males.
Joana (Eva Barros)
Natural de Cabeceiras de Basto, veio servir para casa dos Mello depois da morte do seu pai. Alimenta a sua família com o dinheiro que ganha. É enfermeira de Tomaz e tem uma grande paixão por ele. É a única pessoa em que Tomaz confia os seus pesadelos da guerra.
Arminda (Margarida Carpinteiro)
Governanta da família, que acompanha desde criança. Sabe todos os segredos da patroa e dos filhos. Está sempre muito atenta aos pormenores sociais e religiosos, sobre os quais tem sempre um ponto de vista. Isabel olha para ela como segunda mãe.
Virgínia (Ana Catarina Afonso)
Costureira e engomadeira, trata de tudo o que são roupas da família. A par de Joana, é das mais jovens empregadas da família Mello. É também muito beata. Solteira, é nos livros que encontra a satisfação para os seus anseios mais românticos e carnais. Religiosa, acompanha Arminda na missa e aproveita sempre a visita do Bispo e dos padres para confessar os seus pecados. Sofre muito com as suas penitências.
João Ferro (António Melo)
Feitor da família Mello desde sempre. Íntegro e fiel ao patrão e às ideias monárquicas, mas muito vulnerável a ideias totalitárias é um homem prático e obediente. Casado com a cozinheira Josefa. Vivem no Solar com as filhas Albertina e Maria. Formam um núcleo tipicamente rural e português, onde as pessoas são simples, mais honestas e carinhosas, em contraste com a família aristocrata.
Josefa Ferro (Teresa Faria)
Casada com João, do qual teve duas filhas, Albertina e Maria. Tem um casamento muito feliz. É cozinheira da família Mello e muito religiosa.
Albertina Fero (Iris Cayatte)
Filha mais velha do casal Ferro. É afilhada de Isabel. É uma rapariga inteligente e culta. Estuda Direito em Coimbra e defende os direitos das mulheres.
Maria Ferro (Silvia Chiola)
Filha mais nova do casal Ferro. É apaixonada pelo filho mais novo do patrão, Ricardo. Gosta da natureza e tem uma grande paixão pelas ervas medicinais.
Belarmino (Carlos Feio)
Surdo-mudo, braço direito de João Ferro e irmão de Clementina. Provoca medo nas pessoas com quem se cruza e sabe coisas que os outros não sabem.
Mariana (Joana de Verona)
Filha bastarda de Afonso. Foi criada pela D.Berta, a dona do café 4.
Apolónio (Rubén Riós)
Nascido numa família burguesa de Ourense, chega ao Solar na mesma altura do regresso de Tomaz. É um jovem de espirito livre, com ligações aos anarquistas e comunistas da Galiza. Vem para Braga e para junto da família Mello com a missão de cometer um atentado, para chamar a atenção para a sua organização e assim colocar os anarquistas galegos nas bocas do mundo. Trabalha com o condutor de carroças e ajudante do feitor e vai aproximar–se da família Mello.
Adolfo (Paulo Calatré)
É um filho da terra, industrial, calculista, mas sobretudo ligado à Economia. Tem uma grande paixão por Isabel.
Padre Mário (Pedro Almendra)
Sacerdote ligado à família Mello. Tem como ambição subir na hierarquia da igreja e um dia chegar a Arcebispo.
Gomes da Costa (José Martins)
Chefe do Golpe Militar de 28 de Maio que partiu de Braga. Foi Comandante de Tomaz nos campos de batalha em França.
Joaquim (Diogo Martins)
Amigo de Ricardo Mello. Gosta de jogar futebol e espera um dia poder apaixonar–se.